sábado, 6 de dezembro de 2014

Cai o Pano - Agatha Christie

Edição: Círculo do Livro
Tradução: Clarice Lispector
Páginas: 202
Nota: 3/5

Não sei o que é mais incrível: ter ficado tanto tempo se escrever, ler Agatha Christie ou saber que li uma tradução da Clarice! 
Ter ficado sem escrever só mostra que tipo de zumbi eu tenho sido nesses últimos 02 anos. Voltar a escrever mostra que algo me deu um novo sopro de vida, e esperamos manter a coisa assim.
Ler Agatha Christie significa retomar a infância. Sim, porque enquanto crianças de 08/09 anos mal e mal liam gibis da Turma da Mônica, eu, ratinha de biblioteca (assídua frequentadora de Faróis do Saber), estava com o nariz enfiado em livros de mistério. Obviamente comecei com livros que vários dos meus colegas também liam, aqueles da coleção Vagalume, mas paralelamente eu descobri Edgar Allan Poe, Agatha Christie e Arthur Conan Doyle. Quando eu era criança eu tinha esse jogo comigo mesma, um jogo de devorar livros. Meu objetivo era terminar os livros o mais rápido possível, para logo em seguida poder começar outro. Eu tinha essa fome insaciável e incontrolável por novas histórias. Lembro que Agatha Christie era a autora que eu mais lia, porque eram livros intrigantes e que apresentavam um desafio bem maior do que Coleção Vagalume. Esses últimos eu lia em coisa de 2h, os da "dama do mistério" demorava até 03 dias! Mas chega de saudosismo.
Sobre a tradução da Clarice temos aí um aspecto técnico. Em termos de teoria e crítica literária, aquela que despreza todo o material "mercadológico" ou "vendável", histórias de crime e mistério não podem ser consideradas boa literatura. O motivo é que depois que você lê uma vez o mistério acaba e com isso o livro se torna inútil. Eu entendo o argumento, mas eu particularmente acho isso uma balela. E é tanta literatura que a musa dos olhos de gato se deu ao trabalho de traduzir. Fim do meu argumento! 

Agora vamos ao livro propriamente dito. Cai o Pano é o caso final do famoso e irritante (e porque não adorável) detetive belga Hercule Poirot. O livro é um desfecho perfeito que recompensa os fieis leitores dessa autora inglesa. O nome do livro é justamente isso, no original "Curtain" fazendo alusão à cortina do teatro que desce ao final do espetáculo. Digo que é uma recompensa para os leitores que acompanham as obras porque ela termina no mesmo lugar em que começou. O livro se passa no mesmo cenário do primeiro livro, publicado em 1920, "O misterioso caso de Styles". Trata-se da história contada pelo Capitão Hastings sobre o último caso em que pode estar ao lado de seu amigo Poirot. A nota que eu dei é porque eu não considero nem de longe esse o melhor livro dela. O Conto dos 10 Negrinhos sempre será o melhor. Mas é no todo uma boa história. O final é bastante surpreendente, característica marcante nas obras de Agatha Christie e o livro é curto e fácil de ler, já que é separado em capítulos. Infelizmente sobre livros de mistério não se pode falar muito, pois a trama deve ser mantida em segredo até o final. 

Ter retomado a leitura e a verborragia com Agatha Christie só evidencia um belo retorno às origens, e isso me deixa imensamente satisfeita e feliz.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Profissões para mulheres e outros artigos feministas - Virginia Woolf



Edição: L&PM Pocket
Tradução: Denise Bottmann
Páginas: 112
Nota: 5/5

E faz meio ano que eu não escrevo um único post, mas isso não quer dizer que nesse tempo todo eu não tenha lido nada. Muito pelo contrário! Li coisas maravilhosas, como a edição completa bilíngue de "As Flores do Mal" de Charles Baudelaire, "Drácula" de Bram Stoker e "O Exorcista" (sim, a mídia original é um livro!). O motivo de não escrever é tão idiota que nem vem ao caso.

Mas todo esse hiato foi quebrado hoje, quando terminei de  ler esta obra incrível da escritora e crítica literária inglesa Adeline Virginia Woolf, Stephen quando solteira. Virginia Woolf não foi apenas responsável por uma inovação literária no campo da linearidade da narrativa, ou do foco narrativo. Não. Ela foi muito mais. Ela foi uma mulher que escrevia sobre mulheres. Não apenas (apenas??) sobre seus sentimentos e perspectivas, mas sim sobre sua realidade. Sua realidade no tocante a educação e ao mercado de trabalho. Virginia Woolf era, senhoras e senhores, uma feminista.
Seu posicionamento sobre a luta feminista era bastante peculiar, crítico, sincero e, acima de tudo, inteligente. Ela ataca de forma feroz, porém sensata, escritores conservadores e suas opiniões absurdamente machistas, e isso era feito publicamente, por meio de cartas enviadas a jornais, ou publicadas pela editora que ela tocava com o marido.
Esse livro fininho é, como o próprio título indica, um apanhado de artigos, de cunho feminista, escritos pela aclamada literata britânica. Sua linguagem é bastante simples e acessível, assemelhando-se muito a uma conversa. Parece ser possível ouvir uma mulher expondo suas opiniões enquanto segue a leitura.
Me emocionei lendo, existe um determinado artigo, escrito a respeito das mulheres membros da União das Trabalhadoras, que realmente me tocou. Foram mulheres que se uniram para discutir, para pensar juntas, para mudar a situação delas, mesmo quando isso parecia impossível, afinal o que pessoas sem direito a voto poderiam fazer para mudar a realidade, não é mesmo?

Sabe o que é triste? Saber que tantas mulheres lutaram e continuam lutando, mas as coisas só mudam quando "eles" querem. Esse meu "eles" não significa seres do sexo masculino, não sou estúpida ao ponto de pensar que gênero e generalizações possam se encaixar aqui, não senhor! Esse "eles" é para definir o "sistema", ou melhor, os dedos responsáveis por apertar o botão, aquele que movimenta o mundo como conhecemos. O mesmo que criou a "questão" da palestina (o que nos mostra o problema e o que o criou, é o mesmo btw). Aquele que gosta de lembrar os horrores do holocausto, mas esquece de dizer o tamanho do estrago da ocupação militar americana em, bom, em todos os lugares!
Mas, ser ativista de sofá é muito fácil, então vou parar de reclamar as mazelas da sociedade aqui e vou tratar de continuar lendo, assim eu posso de alguma forma colaborar com o embasamento dos argumentos daqueles que estão se movimentando para a mudança.

domingo, 21 de outubro de 2012

Ilíada - Homero


Edição: Saraiva
Tradução: Carlos Alberto Nunes
Páginas: 605
Nota: 4/5

Outra magnífica epopeia grega, ambientada na Guerra de Troia, num espaço de 10 dias, que trata sobre a ira de Aquiles.
É coisa linda de meu Jesus!
Tudo começa já no meio da Guerra (10 anos de luta), ninguém explica nada (é subentendido que quem tá lendo manja as tretas que motivaram o circo todo), e rolam umas zicas fortes que deixam Aquiles tresloucada. A bicha surta com uma atitude de Agamémnone, se ofende e sai da batalha. Como a viada era simplesmente o melhor dos guerreiros gregos todo mundo acaba se dando mal e os troianos passam a ter vantagem.
A história é uma loucura, onde os deuses se envolvem absurdamente o tempo todo e fica bem claro que Zeus é um sádico, Hera uma megera barraqueira e os outros deuses uns panacas, que se divertem com as tretas dos humanos.
Também não conta como a Guerra acaba.
As melhores cenas são quando:
- os deuses descem do Olimpo e vão pra batalha.
- Aquiles tem o maior surto psicótico da história da humanidade ao descobrir que seu "amiguinho" foi morto e dá início a maior chacina jamais vista, indo até um rio pro saco, eu disse um RIO!
Além disso, posso expor as características de algumas das personagens principais:
Helena - vadia
Páris - molenga
Menelau - bundão
Heitor - babaca
Odisseu - o mesmo malandro de sempre
Atena - mais linda e incrível do que nunca.

Indico fortemente a leitura, especialmente para aqueles que gostam de narrativas de batalhas (a la Bernard Cornwell ou Tolkien ou qualquer outro escritor que descreva guerras/lutas).
Apenas uma observação: a leitura desse texto é agradável e lê-lo pode ser considerado deveras importante, mas não confundam isso com afrodisíaco, ok? Ouvi dizer que conhecer a Ilíada pode acabar se tornando um verdadeiro empata foda.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Odisséia - Homero


Edição: Penguin Companhia das Letras
Tradução: Frederico Lourenço
Páginas: 584
Nota: 4/5

Todo mundo conhece a história mesmo que não saiba detalhes dela. É bem comum ouvir palavras como "homérica", "odisséia", "presente de grego" no nosso dia a dia, certo? Pois bem, essas palavras vem desta obra, que foi escrita por um suposto Homero que na verdade nem se sabe se realmente existiu!
Sim, existe toda uma polêmica em torno da data de criação e da autoria desta epopeia grega, mas isso não vem ao caso agora, né?
A história é o seguinte: tem esse herói grego, de nome Odisseu (por isso Odisseia - de Odisseu), que luta em Troia e fica 20 anos longe de casa, por N motivos. Odisseia é justamente a história da volta dele pra casa. Enquanto ele vive mil aventuras, e narra suas outras mil aventuras para o rei dos Feácios, mostra como estão as coisas na sua casa. Seu filho, coitado, sofre horrores porque tem que ficar recebendo todo dia mais de 100 homens que almejam se casar com sua mãe. Ninguém sabe que fim levou o Odisseu, e quando ele foi pra guerra ele falou pra mulher que se casasse se ele não voltasse em 20 anos.
Aí ninguém consegue se livrar dos caras, já que a mulher não decide casar com ninguém mas também não os dispensa, e eles ficam lá, bebendo e comendo tudo que tem na casa do Odisseu, fazendo festas e sendo babacas.
O final não tem nada de surpreendente, mas é bem mais sanguinolento do que eu tava esperando. Esqueci o nome do cara que disse que a Odisseia foi escrita por uma mulher, mas isso é uma ideia absurda, já que se fosse verdade Penelope (a esposa) tinha feito picadinho de Odisseu no final do livro.

Eu achei uma história muito boa, principalmente porque me lembrou minha infância, quando eu assistia "As Aventuras de Wishbone", um cachorro que sempre revivia as histórias dos clássicos da literatura. Eu lembro do episódio que Wishbone era Odisseu.

Enfim, a obra é tão importante e tão influente quanto a Bíblia e simplesmente ditou as diretrizes do que entendemos por literatura. Ou seja: TEM QUE SER LIDO.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Édipo Rei - Sófocles



Edição: L&PM Pocket, 2012
Tradução: Paulo Neves
Páginas: 96
Nota: 3/5

Sabe as palavras drama e tragédia? Você passa a realmente entender o significado e a origem dessas palavras depois de ler essa produção grega, chamada de TRAGÉDIA. Talvez eu pareça redundante dizendo essas coisas, mas juro que não estou! Ninguém é obrigado a saber a ligação entre algumas palavras e esses gêneros originários da Grécia Clássica, certo?
Aquele papo de psiquiatra de "complexo de Édipo" surgiu com essa tragédia, que é nada menos do que uma representação do mito de Édipo, o cara que acaba descobrindo coisas horríveis sobre sua origem.
Não quero entrar em detalhes sobre a história em si, para não estragar o final para quem não a conhece, mas fica difícil dimensionar o quão dramática é a coisa toda sem contar ao menos um pouquinho.
Édipo era rei de Tebas, e tudo tava lindo, eis que o povo vai no palácio choramingar que nada prosperava na cidade, nem as plantações, nem as criações e nem mesmo a procriação dos cidadãos. Aí o rei jura por tudo que é mais sagrado que vai descobrir o que acontece e depois que o responsável vai pagar caro. 
A trama gira em torno disso, dessas descobertas que Édipo vai fazendo e o quanto a cada descoberta um novo problema surge até a chegada do drama final.
Temção!
A história em si é ótima, até porque é um mito extremamente antigo e originou mais um zilhão de produções (literárias e científicas), e tem todo um aspecto filosófico sobre o conhecimento e a origem do ser humano, muito bom para ler e ficar criando teorias diversas sobre o assunto.
A nota não é maior por conta da linguagem, lógico que não poderia ser diferente (tendo em vista que todas as versões são uma mera tradução do original em grego antigo), mas né, é meio chato.
O livro é extremamente curtinho, lido em pouquíssimo tempo. Acho que, por ser um dos clássicos dos clássicos, precisa ser lido!

terça-feira, 27 de março de 2012

Um breve adendo


A maldita saga de livros para o processo seletivo da UFPR me rendeu uma vaga na instituição e agora estou cursando Letras. Digo que foram os livros porque foi a única coisa que eu "estudei", o resto foi chutômetro e funcionou. Mas enfim, graças a essa conquista (ou não) eu agora não tenho mais tempo livre pra ler, eu tenho que ler como obrigação.
Depois da minha linda aula de Teoria da Literatura vi o quanto esse blog vai ser necessário, uma vez que aqui vou poder dizer coisas leigas como: achei lindo, achei ridículo, odiei, amei... Em contraponto com o curso, onde teremos que produzir apenas e tão somente críticas acadêmicas, seguindo formalismos e dizendo coisas como: esta produção literária é precária tendo em vista a análise morfológica que não apresenta grandes novidades ou variações.
Enfim, vou manter minha forma tão singela, meiga e tudo menos acadêmica de julgar as obras lidas, mesmo sendo elas referenciais para meus estudos literários.
Ou seja: pouco me importa que eu tenho que manter uma imagem de verdadeiro pedantismo dentro da universidade, aqui eu posso continuar sendo 'gonorante' e falando que NÃO GOSTO de obras que são consideradas marcos na literatura. Que eu entenda o significado e o peso delas pela explicação dada pelos professores, mas que eu mantenha sempre meu gosto pessoal, certo?
Se você não concorda aí já não é mais problema meu.
Uns beijo...


segunda-feira, 5 de março de 2012

Minhas Mulheres e Meus Homens - Mário Prata


Edição: Objetiva, 1999
Páginas: 252
Nota: 3/5


A ideia é bem original, o autor diz que a teve olhando sua agenda telefônica enquanto pensava que tinha pelo menos uma história pra contar a respeito de cada uma daquelas pessoas que estavam elencadas na referida agenda.
É uma biografia não biográfica, haha, se é que isso é possível! O livro é disposto em ordem alfabética, mas ao final apresenta um índice cronológico e a recomendação de que seja lido dessa maneira. Não existe padrão, às vezes as histórias são unicamente protagonizadas pelas pessoas sem participação alguma do autor, outras são histórias vividas por ambos e chega ao ponto de ter alguns que são poemas, ou contos, bem aleatório mesmo.
Dentre esses conhecidos temos desde tios, primos, filhos, ex-mulher até Arnaldo Jabor, Chico Buarque e Gabriel Garcia Marquez. Algumas histórias são engraçadas, peculiares e interessantes, outras requerem conhecimentos de literatura, cinema, televisão e sabedeusmaisoque para fazerem sentido, achei isso meio chatinho.
Esse apanhado de histórias acaba retratando bem o autor, por isso até que passa por biografia. Mas ou eu tenho um gosto muito estragado, ou sou burra, ou só não captei a essência da coisa ou do "coiso", porque eu sinceramente não gostei do Mário Prata que ficou estampado nessas histórias. Ai sei lá, não curto escritor bicho grilo, muito menos as baixarias da televisão e da "cena literária" brasileira, que se resumem em maconha e muita putaria.
Acho desagradável o jeito como ele curte contar que comeu todo mundo, ou o quanto ele fuma/fumava maconha como se fosse cigarro de chocolate. A parte boa é acabar com o maldito saudosismo das décadas de 60/70/80, que a galera que foi jovem nessa época curte falar que o mundo tá perdido e que a libertinagem tá solta. AHAM, deu pra ver bem como todo mundo era comportado nessa época.
No mais não vejo brilhantismo NENHUM no tal do Mário Prata, já que o que ele escreve tá mais pra uma conversa de bar meio da mal contada. Mas repetindo que tudo pode ser ignorância minha. Gente que quer forçar a loucura me cansa.
É relativamente um livro bom, mas a falta de continuidade me fez levar séculos pra ler.