quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Feliz Ano Novo - Rubem Fonseca


Acho que 2011 foi o "ano dos livros de contos" na minha vida, não me lembro de antes ter lido tão seguidamente tantos exemplares dessa espécie! Esse, em especial, estava aguardando desde o comecinho do ano (lá por abril) para ser lido. Confesso que eu tinha um certo preconceito contra o mesmo, parecido com o meu sentimento em relação a Nelson Rodrigues, provavelmente por conta da famosa "pornografia" como tema. Sim, eu tinha um grande e burro preconceito contra essa temática e "Feliz Ano Novo" é sem sombra de dúvidas um excelente material para fazer qualquer um superar esse preconceito (ou desistir de vez de tentar apreciar).
Como de costume, lá vou eu conto a conto:

01. Feliz ano novo: conta a história de 03 pelegos que resolvem assaltar alguma casa na noite de ano novo. É bem escrito, pesado, sujo e sobre a escória da sociedade. Achei legalzinho.

02. Corações solitários: o livro me foi emprestado justamente por esse conto, tanto que eu cheguei a lê-lo e depois encostei o livro de novo por mais alguns meses. A história é contada por um jornalista que sai das notícias policiais para fazer parte de uma encadernação destinada às mulheres da classe C. O final é bastante surpreendente. Mas de novo: achei legalzinho.

03. Abril, no Rio, em 1970: um fulano quer ser visto por um olheiro de futebol para poder ir para um bom time. Achei chatinho, mas esse conto diz muito sobre a pessoa que me emprestou o bendito livro. P.S.: obrigada babe!

04. Botando pra quebrar: foi aí que eu comecei a gostar do livro. História de um zé ninguém que não quer mais viver as custas da mulher e arranja um emprego de leão de chácara, ironicamente no mesmo dia que ela pede a ele que a deixe encontrar um homem bom e decente para ela. A parte do drama é boa e realmente triste, mas o legal é o final do conto.

05. Passeio noturno (Parte I): um pai de família aparentemente normal tem uma espécie de "hobby" bastante único, que o ajuda a liberar as frustrações.

06. Passeio noturno (Parte II): é nesse conto que o tal hobby consegue ficar ainda mais assustador. Genial esse conto, amei amei amei amei (aqui você já consegue perceber o quanto eu estava empolgada com o livro).

07. Dia dos namorados: o famoso personagem Mandrake aparece nesse conto (excelente, diga-se de passagem). Uma história maluca sobre um ricaço que resolve levar uma garota de programa pra um motel e tudo que podia efetivamente dá errado. Aí o Mandrake surge pra resolver o rolo todo.

08. O outro: esse eu achei muito triste. Um cara rico que trabalhava demais e todo dia era abordado por um coitado na rua, até ele se irritar com o coitado...

09. Agruras de um jovem escritor: que conto mais maravilhoso! Um escritor que mora com uma suposta fã e a trata como lixo, ao final percebe que não era ninguém. Não quero detalhar mais, acabaria com toda a graça.

10. O pedido: outro conto bastante triste. E aqui eu notei um elemento que é recorrente na escrita de Rubem Fonseca - personagens de origem lusitana. Um velhinho precisa pedir ajuda para seu patrício, mas os dois estão brigados há anos (e ele nem mesmo lembra o motivo). Incrível como certas bobagens, em especial o orgulho, acabam com a vida das pessoas.

11. O campeonato: é nesse conto que a tal pornografia é abordada de um jeito tão inusitado que você consegue perceber que não há nada demais nela. É um conto genial, sobre um campeonato de conjunção carnal. Certos elementos te fazem notar que o conto não se passa no presente e sim num futuro estranho, que é o que o autor acredita que vai acontecer com a humanidade. Muito bom mesmo.

12. Nau Catrineta: meu conto preferido. Um jovem está completando 21 anos e é seu destino completar uma missão, passada por gerações em sua família. Outro elemento que eu já havia percebido: o autor é extremamente culto, em especial quando o assunto é literatura, e deixa isso bem claro ao longo de todo o livro! A atmosfera de mistério e profecia são muito bem colocadas e se apresentam de forma ao mesmo tempo sútil e evidente (não me pergunte como, só leia).

13. Entrevista: o conto inteiro é uma conversa entre um homem e uma mulher, mas ninguém te diz isso. Simplesmente são duas iniciais diferentes "M" e "H", e você só pode ter certeza de que "M" é mulher pelo contexto, mas não que necessariamente esse "M" seja pela primeira inicial de "mulher". E a complexidade dele é tamanha que me deixou meio tonta ao final, não sei se realmente é pra entender o que eu entendi ou se eu viajei bonito, mas o "meu final" é bem sinistro.

14. 74 Degraus: nunca tinha visto essa estrutura - apenas pensamentos das personagens. Fica bem confuso em alguns momentos, onde é difícil distinguir quem está pensando o que, mas é realmente genial. Um jeito único de narrar uma história, como se usasse da visão de cada personagem sobre um mesmo fato, vivido exatamente no mesmo momento. A história em si não é tão boa, se bem que adorei o triunfo das personagens femininas, mas enfim, o que realmente marca é a estrutura.

15. Intestino Grosso: o melhor fechamento de livro de contos que eu já vi em toda a minha vida (e que certamente vou ver, porque, pra ganhar desse tem que ser muito bom mesmo). Esse conto é como se alguém fosse entrevistar um certo escritor que por acaso é exatamente IGUAL ao Rubem Fonseca. Explica muita coisa, inclusive o livro todo passa a fazer muito mais sentido e deixa de ser uma série de contos desconexos para se mostrar um grande projeto, único, que segue uma mesma linha de raciocínio. Adorei muitas das ideias do autor, mas nada se compara a explicação a respeito da temática "pornografia". Excelente final.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adams


Quando li esse livro pela primeira vez eu tinha 16 anos e fiquei fascinada com todo o sarcasmo e genialidade das inúmeras piadas ao longo da narrativa. O que eu não havia me dado conta era que é apenas isso o livro, apenas uma bela piada! Uma grande satirização da humanidade e todas as suas crenças e costumes.
Douglas Adams foi um verdadeiro gênio, e sua ideia mais brilhante foi criar essa saga em que um humano sobrevive à destruição do Planeta Terra e sai pela Galáxia com alienígenas (e uma outra humana) em uma aventura épica.
Alguns elementos são extremamente característicos e divertidíssimos:
Primeiro de tudo - NÃO ENTRE EM PÂNICO;
Ford Prefect - o alien que mora (fica preso) na Terra por 15 anos e não entende sarcasmo ou ironia;
Marvin - o robô depressivo mais chato e irritante de todo o Universo;
A Resposta da Questão Fundamental ser 42 e a questão em si ser totalmente desconhecida;
Os humanos serem apenas os terceiros seres mais inteligentes que habitavam a Terra.

Além de outras zilhões de piadas ótimas e extremamente bem elaboradas!
Preciso urgentemente (re)ler o título seguinte "O Restaurante no Fim do Universo", é uma saga SENSACIONAL e você fica desesperado para entender a história inteira. Infelizmente a qualidade das piadas vai decaindo a cada título, mas vou dar mais uma chance, talvez tenha sido apenas uma má primeira impressão!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Contos de Fadas - Apresentação de Ana Maria Machado


Sempre ouvi dizer que aquelas lindas histórias de contos de fadas eram bem diferentes em sua versão original, muito distantes das versões "Disney" que nós estamos habituados. Quando eu era pequena meu pai lia esses contos originais para mim e meu irmão, e eu me fascinava com o tom levemente (ou puramente) macabro da maioria.
Esse livro é um verdadeiro achado! Ana Maria Machado reuniu grandes clássicos em versões que, segundo ela, se aproximam mais das supostas originais. Nada de finais felizes aqui, ou pelo menos não na massiva maioria dos contos.
Algumas histórias me chamaram mais atenção: Chapeuzinho Vermelho, Barba Azul, Branca de Neve e a Pequena Sereia. Vou explicar um pouquinho o porquê:

Chapeuzinho Vermelho: fica ainda mais claro na versão de Perrault que este velho conto servia para assustar moçoilas inocentes de forma a tomarem cuidado com os "lobos" que vivem pela "estrada a fora". Ou seja: mocinhas virgens, não se deixem enganar! Esses canalhas só querem deflorar vocês e nada além disso! Detalhe: nessa versão não existe caçador/lenhador algum e a Chapeuzinho vai pro saco mesmo. Na sequência, Ana Maria incluí a versão dos irmãos Grimm que se mostra mais leve e faz Chapeuzinho e sua vovó triunfarem, cheguei a ficar com dó do lobo!

Barba Azul: quer assustar seus filhos antes de dormir? Fácil! Só ler essa historinha macabra para os pequerruchos. Degolar é um verbo interessante e resume a história. Maaaaaas, achei um absurdo! Fazem o coitado do Barba Azul de vilão e na real ele só não curtia que mexessem nas coisas dele e que o desobedecessem! Achei a moral desse conto TODA ERRADA!

Branca de Neve: Necrofilia define. Sim, pois a bonitinha cai morta, dura, ressecada, aí os anões (pedófilos porque a laza tinha 07 anos) entravam a desgraçada num caixote de vidro (diamantes, sei) e eis que surge um necrófilo podre de rico (conhecido como "príncipe encantado") que vê o presunto e fica louco. Fala que paga o preço que for pros anões pra levar a de cujus pro castelo dele. Agora veja essas informações e me diz se isso não é necrofilia.

A Pequena Sereia: quase chorei. Não tem final feliz, é triste em demasia. Você fica lá o conto inteiro (que é o maior do livro) torcendo pela meio-pirigueti meio-tainha e no final: pfff, ela vira AR. E tudo pra que? Pra ensinar as crianças que elas devem ser boas, pois quando são elas ajudam as aves a conquistar uma alma imortal, oi? É o mesmo conto? SIM, É! Acredite, fiquei perdida quando chegou no final - Hans Christian Andersen, espero que você esteja apodrecendo no inferno!

Apesar de só ter zombado dos contos, eu realmente AMEI esse livro! Me vejo lendo pros meus filhos, em especial o Barba Azul! Foi um dos melhores presentes que já ganhei em toda minha vida, em especial pela linda dedicatória escrita na contra capa. O objetivo foi alcaçado: me fez sorrir, e muito.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

S. Bernardo - Graciliano Ramos


Levei um tempo exagerado para finalizar essa leitura, mas não foi culpa da obra e sim da minha preguiça. É um bom livro, muitíssimo bem estruturado e cheio de simbologias.
Trata-se da história de Paulo Honório, narrada pelo mesmo como forma de entender os acontecimentos passados. A linguagem marcante do livro é a oralidade, através da qual a personagem principal consegue se expressar, uma vez que se trata de pessoa simples de pouco estudo.
A trama mistura muito presente com passado e realidade com ilusão, tentando mostrar todo o drama vivido (ou imaginado) por Paulo Honório.
Apesar de não ser uma grande fã dessas narrativas "sertanejas", como "Vidas Secas" outro título do mesmo autor, gostei bastante da obra. Mas provavelmente por que esse teve um grande diferencial: não se fixou muito em contar a respeito da pobreza do sertão, apenas a realidade política da década de 30. Achei deveras interessante.
E chegou ao fim o martírio dos livros do vestibular. Tá, mentira, faltou um. Não vou ler e pronto.

:)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles


Êêêê listinha infinita do vestibular!
Cecília Meireles = POESIA. O que eu penso disso? Quem teve a coragem pra ler um único post meu já sabe que eu não tenho cultura suficiente pra gostar de poesia, então pense na tortura!
Mas, apesar da cara retorcida que fiz ao iniciar a leitura, tenho que dar um crédito pra Meireles e dizer que quase cheguei ao ponto de curtir o livro. Não que eu tenha entendido TUDO, mas consegui inclusive utilizar algumas estrofes para um futuro projeto.
O livro é um apanhado de poeminhas, que a autora chama de "romances", chegando assim ao título do maldito livro. O cenário é a cidade de Vila Rica bem na época da Inconfidência Mineira (1789), e a trama gira em torno de trocentos personagens e suas vidas, dramas, e envolvimento no episódio. Não tem muito mais pra dizer, porque é só isso mesmo, mas me custou MUITO tempo pra ler. Em parte preguiça por conta da forma de narrativa e em parte porque estou bem sem tempo mesmo.
Adorei um certo "romance" chamado DO JOGO DE CARTAS. Quem me conhece sabe a fixação que tenho por baralho e naipes, então tudo passa a fazer sentido.
Fora isso, realmente gostei muito de certos trechos, sobre vida, morte, traição e dor, que pretendo fazer uso mais tarde.
Espero que os outros 2 títulos sejam mais agradáveis para meu gosto literário...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Urupês - Monteiro Lobato


Eu estava apreensiva quanto a este livro. Achava que ia ser chato, difícil e conteria provas contundentes para tornar o boato de que Lobato era racista real. Eu estava completamente enganada. Urupês é um livro de contos escrito em 1918 que virou uma espécie de "best seller" da época. Com esse livro pude perceber duas grandes preocupações de Lobato: ambientais e políticas. Seus trabalhos são grandes críticas ao descaso com o meio ambiente e ao cidadão brasileiro que não se preocupa com nada. Genial!
Como de costume, vou fazer um "conto a conto".

01 Os Faroleiros: começando muito bem o livro com um conto ligeiramente macabro, sobre vingança e loucura. Ambientado em um farol, coisa que desperta muito meu interesse, achei um excelente conto.

02 O Engraçado Arrependido: esse daria um ótimo curta. Conta a história de um sujeito que era hilário, e que no começo acha isso um trunfo, mas tudo cai por terra quando percebe que absolutamente ninguém consegue o levar a sério. Nem mesmo ao final... ironicamente triste.

03 A Colcha de Retalhos: chorei (não que seja novidade) com esse conto. Uma senhora fofa faz uma colcha com todos os trapinhos de tecido que foram usados para vestir sua netinha, com o objetivo de lhe servir de enxoval. Acaba que todas as pessoas importantes se vão, incluindo a neta, que larga a senhorinha assim, sem mais nem menos. Muitíssimo triste.

04 A Vingança da Peroba: para mim esse conto diz duas coisas importantes. A primeira é que nada que for feito sob o sentimento da inveja e da vingança vai pra frente. A segunda é que deve-se sempre respeitar a natureza, ou ela vai se voltar contra você rapidinho. Final macabro sensacional.

05 Um Suplício Moderno: exploração dos "pacatos cidadãos". A tortura causada pelo trabalho quase que escravo. Interessantíssima a representação desse assunto através desse conto.

06 Meu Conto de Maupassant: alusão ao contista francês Guy de Maupassant, que tinha predileção pelas tramas psicológicas. Um sujeito narra a outro um caso de pura tormenta psicológica em que um italiano é acusado de um crime que não cometeu, mas que mesmo assim isso o tortura de forma tão vil que o leva ao suicídio. Sem explicações, apenas isso.

07 "Police Verso": não gostei desse conto. O "mal" triunfa. Narra a história de um menino maligno que torturava animais e se torna médico por conta da grana. Aí ele engana um pobre doente, faz ele morrer pra receber mais do que se o tratasse e vai morar em Paris. E o pai é um iludido que acha que ele é um grande médico e que estava na França estudando, ao passo que o desgraçado vai lá ficar com uma cortesã! Me indignei.

08 Bucólica: o nome diz tudo. Aquela paisagem rural, sossego, flores e coisas assim. Porém, a história é deveras depressiva. Mãe ruim deixa filha aleijada morrer de sede. Horrenda.

09 O Mata-Pau: história TENSA! A explicação é simples, mata-pau é uma espécie de parasita que só faz sugar uma determinada árvore até secá-la de vez. Acontece que um casal encontra um bebê e o adota, mas o menino se mostra um verdadeiro aproveitador. Acaba com a vida dos dois e vai embora.

10 Bocatorta: não entendi direito qual o intuito desse conto, mas fiquei com muita pena da aberração de alcunha Bocatorta. Ele era só deformado e por isso tratado como monstro, achei horrível.

11 O Comprador de Fazendas: muito bom! Um cara malandrex engana uns matutos fingindo que vai comprar sua fazenda e nunca mais volta. Passa um tempo ele ganha na loteria, resolve que realmente quer comprar a tal fazenda e vai até lá. Os fazendeiros, revoltados, expulsam o cara a ponta pés e todos saem perdendo. Maluquice pura!

12 O Estigma: mais um continho macabro. Um crime que ao final é denunciado por um recém nascido e sua marquinha de nascença. Bizarro e triste.

13 Velha Praga: o mal do século tem um nome: caboclo. Aqui ele faz uma crítica, dizendo sobre os desmatamentos, e que toda a destruição da natureza é ignorada pelos homens. Que as pessoas tratam genocídios como grandes calamidades, mas queimadas nada significam. Achei bem interessante. Os eco-chatos iriam amar.

14 Urupês: aqui Monteiro Lobato descasca o chamado caboclo, e o personifica em Jeca Tatu. Fala sobre a "lei do menor esforço" e do orgulho que os brasileiros sentem em ser descendentes desse tipo de ser. Muito bem escrito, e com uma excelente crítica à nossa sociedade, que apesar de mudança de século não mudou em absolutamente nada!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Felicidade Clandestina - Clarice Lispector


E a saga da listinha da UFPR continua. Correndo o risco de sofrer bullying literário e nunca mais ser respeitada por ninguém (como se ainda tivesse algum respeito a perder), essa foi a obra 'indicada' mais difícil de ler até o presente momento! Por se tratar de um livro de contos prefiro usar aquela tática de ir conto a conto para expressar melhor o que essa leitura me trouxe. E antes de mais nada, eu NUNCA havia lido Lispector (ou achava isso). Sem contar é claro as 20475625465214511 zilhões de citações escritas em tweets. Não sei quem foi o sábio que disse que deveriam fazer um Twitter com uma ferramenta própria para reclamar do clima e outra para citar Clarice Lispector. Mas enfim, vamos aos contos.

01 Felicidade Clandestina: conto que dá nome ao livro (OH REALY?), e um dos poucos que eu realmente gostei. Pra dizer bem da verdade eu me assustei quando fui percorrendo as linhas por um motivo bastante inusitado. A primeira vez que mostrei algo escrito por mim ao meu namorado ele logo perguntou se eu gostava de Lispector. Eu ri e respondi que nunca havia lido, e ele falou que havia uma certa semelhança na escrita. Nesse conto eu devo concordar. E descobri inclusive qual a semelhança, essa necessidade de escrever de forma a mostrar o sentimento do personagem/narrador e "meio que" escrever como se fala/pensa. Maaaas, voltando ao conto adorei a felicidade da menina proporcionada por um livro.

02 Uma Amizade Sincera: tá, aqui a coisa já começou a ficar um pouquinho estranha pra mim. Primeira crítica, só eu que acho que Lispector não consegue criar personagens homens? Eles ficam ora afeminados ora totalmente robóticos ou mesmo falsos. Mas enfim, história triste sobre amizade, em parte retrata um sentimento real, de desconforto que algumas amizades acabam nos trazendo, mas não acredito que isso possa acontecer numa amizade como a narrada no conto.

03 Miopia Progressiva: pronto, depois desse conto eu já tava criando um pequeno ódio pela autora. Me perdi muito nas ideias contidas aqui. Foi quando me toquei que o problema, a meu ver, é que ela só joga as ideias no papel, um turbilhão de ideias/pensamentos/falas/situações, assim sem ordem específica. Não que seja ruim, só é estranho... E outra, juro que tentei entender esse lance da metáfora da miopia que realmente o faz enxergar com qualquer coisa em nossas vidas, mas acho que sou burra ou sem criatividade DEMAIS pra isso, sorry. Mas todos os possíveis pensamentos que passam na cabeça de um menino acerca das coisas que são faladas pra ele, a fantasia que ele faz das situações e a preocupação com os acontecimentos e suas consequências são muito verídicas. Achei encantador.

04 Restos do Carnaval: apesar de eu achar totalmente bizarro esses contos sobre a infância, onde ela faz uma criança de 08 anos pensar como um adulto (sem nexo, beijos), eu achei esse conto bem gacioso. Mas depois eu ia descobrir que 75% dos contos dela são sobre o "desabrochar" (tanto de meninos quanto meninas, TODOS se descobrem finalmente mulheres ou homens).

05 O Grande Passeio: um dos meus preferidos. Chorei litros. Adoro pessoas idosas, e essa velhinha tocou meu coração. Como e porque ninguém entende que vai ficar velho? E como ninguém entende que uma pessoa "velha" já foi jovem e viveu tudo e mais um pouco do que os outros que se julgam assim tão jovens? Achei lindo e extremamente triste esse conto.

06 Come, Meu Filho: tá Clarice, já entendi o que você faz. ABSOLUTAMENTE tudo que essa mulher escrevia era a partir de seu cotidiano. Foi nesse conto que a ficha caiu. Ela só escrevia sobre o que ela via/fazia/conhecia. Realmente o que ela faz são retratos do cotidiano de forma "especial". Acho bem válido, faz enxergar as coisas mais banais com outros olhos. Devaneios feitos a partir de perguntas de criança deveria ser o título alternativo desse conto.

07 Perdoando Deus: tudo é lindo, sou linda, sou amor, sou divina, opa! Um rato morto no meio do caminho. Poxa Deus, não me sacaneia cara! Essa é a minha versão desse maldito conto que dá voltas e mais voltas pra falar que não se pode brincar de Deus e nem ficar de cara com ele, TUDO tem sua razão de ser no plano do divino ZZzzZZzzzZZzzz

08 Tentação: ah, esse é bonitinho. Um conto de uma vida e um drama inteiro que deve ter sido vivido em algo em torno de 6min. Uma menina que é sozinha no mundo, e encontra um cachorro que deveria ser seu, mas não pode ser. E é isso. HAHAHAHAHAHA.

09 O Ovo e a Galinha: esse foi o conto que me levou uns 3/4 dias pra ler. Sim, um único conto teve a habilidade de me fazer odiá-lo ao ponto de levar mais tempo para lê-lo do que um livro inteiro (como Anjo Negro). Não estou falando que é ruim, ou mal escrito, de forma alguma. Mas é muito intenso, são ideias DEMAIS jogadas em sequência, difícil absorver tudo. Preciso ter paciência e ler mais umas 3x pra começar a fazer sentido. Com esse conto eu cheguei a uma conclusão. Eu vivo pensando coisas aleatórias, que levam a outros pensamentos e outros e por aí vai. Brainstorm seria a palavra mais adequada. Acontece que eu sempre quis descobrir um meio de passar TODOS esses pensamentos com ou sem nexo prum papel, exatamente da forma como eles surgiram na minha cabeça. Acho que Clarice descobriu como fazer isso, pois esse conto retrata bem um Brainstorm (esse e os outros...).

10 Cem Anos de Perdão: quando eu falei que nunca havia lido Clarice (tirando as citações) eu estava falando a verdade, ou pelo menos o que eu acreditava ser verdade. Foi ler a primeira linha desse conto que eu me lembrei. Lembrei de muita coisa, lembrei até de como eu me sentia quando li esse conto pela primeira vez. Me lembrei da minha professora, dos meus colegas, da minha vida naquela época. É um conto bonito, sobre uma menina que roubava rosas. Mas o conto em si não vale nada perto de tudo o que ele me despertou quando o (re)li. Memória é uma coisa engraçada mesmo...

11 A Legião Estrangeira: apesar de ter um começo confuso eu gostei desse conto. Tadinha da Ofélia, era uma mini adulta que perseguia a Lispector hahaha. Mais um conto com o tal "desabrochar", mas dessa vez foi diferente, o mundo da menina ruiu quando ela finalmente se deixou ser nada além de uma criança. Achei bem interessante.

12 Os Obedientes: cara da depressão esse conto. Fala sobre um casal que nunca fazia nada, e que foi pro saco quando começaram a se tocar que não faziam nada. TRISTE.

13 A Repartição dos Pães: achei esse conto MUITO bom. Mas acho que só porque eu imaginei ele em toda uma perspectiva macabra. Não exatamente bondosa e cristã, como o título sugere. Em resumo são pessoas que vão almoçar num sábado na casa de uma fulana e todos consideram como um compromisso chato, mas chegam lá e a mesa tá toda linda e a mulher toda querida e tal. Escrevendo isso agora me toquei que soa como ir à missa, que as pessoas vão de má vontade, mas Deus/Jesus tá lá pra elas, preparando um real banquete pois as ama e toda aquela história de sempre... mas pff não vou pensar nisso. Sem liçõezinhas cristãs pra cima de mim! ù_Ú

14 Uma Esperança: sabe quando você se toca que ter algumas informações a mais te ajuda a interpretar melhor a leitura e assim curti-la mais? Pois foi assim com esse conto. Descobri que esperança é um inseto verde, tipo um grilinho, da família do gafanhoto, e também que as pessoas acreditam que ele traz boa sorte. Com esse tantinho de informação eu já consegui entender mais o que lia e também gostar. Esperança é uma coisa boa e má ao mesmo tempo, só o que tenho a dizer.

15 Macacos: é porque ela morreu na década de 70 e esse conto foi escrito antes disso, pois a Sociedade Protetora dos Animais, e antes ainda o IBAMA, nunca permitiria a publicação desse conto. É um tal de comprar macaco na rua que dá até nervoso. Achei muito triste esse conto, não gosto de macacos, mas também não precisa judiar deles, poxa!

16 Os Desastres de Sofia: menina bagunceira, super criativa que curte provocar um professor. Não sei o que é ser assim... quer dizer, eu me perdia nos meus próprios pensamentos e tudo o mais, mas sempre fui tão queridinha dos professores. Enfim, outra coisa deprimente é esse 'amor pelo homem da Criação' que eu me perdi completamente. Achei meio bizarro esse conto e é, foi isso.

17 A Criada: alguém que tenha lido me diz, a criada era uma ninfa das florestas? Ela foi uma ninfa em alguma vida passada? Alguém me explica esse conto, porque né, eu não entendi nada.

18 A Mensagem: não gostei. Eu entendi esse (juro), mas não gostei. Menino e menina eram amigos ligados pela angústia. Aí a angústia "passa", eles não se precisam mais, digamos assim. Aí ele vira homem e ela mulher e por isso ele sente que precisa dela. Porque né, homem precisa de mulher. Sério Lispector? Podia fazer melhor que isso, hein!

19 Menino de Bico de Pena: se é realmente isso que um bebê pensa é a coisa mais deprimente ever. Diz Clarice que bebê só vira "humano" pra poder ser entendido e não ficar sozinho, e assim ele é devidamente "domesticado" e ensinado a ser pessoa. Achei TENSO. Além do mais, depois do conto anterior eu já tava meio que de saco cheio e só queria terminar logo o livro...

20 Uma História de Tanto Amor: ai que dó da menina que amava galinhas! Mas achei digna a história da mãe, de que quando nós comemos um animal ele passa a nos "pertencer". Triste, mas bonitinho.

21 As Águas do Mundo: li esse conto com tanta atenção que depois vieram comentar uma parte comigo e eu não fazia IDEIA do que a pessoa estava falando. Óbvio que passei os olhos de novo e vi a tal parte em que ela diz que a água do mar = porra. Desculpe o linguajar, mas gosto de "traduzir" pro vernáculo que eu uso e conheço. Melhor do que "líquido espesso do homem" que passou total batido na minha primeira leitura (feita dentro de um ônibus) e me fez passar vergonha. Enfim, de qualquer forma não entendi esse conto, se alguém quiser me explicar, fique a vontade.

22 A Quinta História: uma história com complementos diferentes que acabam formando "novas histórias". Adorei a ideia. Vou usar. Sim, é só que eu tenho a dizer sobre esse conto.

23 Encarnação Involuntária: pessoa claramente perturbada que não tem personalidade própria e fica tentando viver a vida dos outros. Um ótimo título para esse conto aleatório e esquisito.

24 Duas Histórias a Meu Modo: não entendi NADA. Ela usa duas histórias escritas por um francês qualquer e fica divagando sobre isso. E realmente é só isso e mais nada.

25 O Primeiro Beijo: Claro, porque estar morrendo de sede numa viagem do colégio, parar num chafariz e beber água que sai da boca de uma estátua é MUITO igual ao primeiro beijo. E sim, essa experiência realmente muda sua vida e te transforma em homem. CHATO, é o que eu tenho pra dizer.

Vou falar a verdade, não sei se gostei ou não. Sei que me deixou confusa. atordoada e me fez sentir coisas contraditórias. Sei que senti um ar de poesia escrito em forma de prosa, e já deixei BEM claro o que poesia me faz sentir - nada porque eu não entendo essa joça!
Maaaaaaas, sempre bom conhecer coisas novas, ainda acho que essa lista do vestibular está me trazendo coisas boas.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lucíola - José de Alencar


Uma vez frequentado uma escola e tendo o mínimo que fosse de instrução já seria o suficiente para saber que José de Alencar está entre os maiores escritores da nação. Eu apenas não tinha noção (em toda minha ignorância) do quão mestre ele realmente havia sido até me deparar com esta obra fascinante, um de seus chamados "romances urbanos".
Lucíola já começa a impressionar por sua forma de narrativa, que se dá por meio de uma carta enviada pelo personagem principal a uma certa fulana, narrando todo o desenrolar da trama em ordem cronológica, expressando seus sentimentos e impressões acerca de cada acontecimento.
Vou dizer que essa obra tocou meu coração tanto por sua complexidade e genialidade quanto pela trama. Sim, eu me sensibilizei pela história da cortesã Lúcia, entendi seu drama e até chorei por ela.
Resumindo a obra só para não correr o risco de estragá-la (pois merece muito ser lida) - as mulheres "de vida fácil" também amam, e intensamente, diga-se de passagem! E toda mulher, por maiores vulgaridades que possa ter feito, é capaz de ter pureza, inocência e castidade (teminhas recorrentes das últimas obras, hein) em seu coração e alma, mesmo que o corpo... bem, acho que deu pra entender.
Amei! Quero muito que essa tortura de vestibular passe para poder ter o prazer de apreciar outras obras desse gênio da literatura. Agora meu querido "Machadão" vai ter de aprender a dividir o espaço do meu coração reservado ao brilhantes escritores brasileiros, antes ocupado por ele em sua totalidade.

Inocência - Visconde de Taunay


Nessa edição que eu li, há um pouco da história do autor, bem como um belo de um resumo da obra, o que foi excelente para mais uma das minhas leituras de vestibular. No tal resumo falava que a obra se apresentava de difícil compreensão, em razão do emprego de gírias sertanejas, caracterizando-se assim um belo exemplar de romance regionalista.
Sinceramente, o que mais me irritou durante a leitura foi (novamente) a detalhada descrição da paisagem. As tais "gírias" eram mesmo muito engraçadas, tendo como exemplo "aninceto", que para nós seria simplesmente "inseto".
Óbvio que uma obra escrita em 1872 possui uma linguagem arcaica muitas vezes de difícil compreensão, mas nesse caso a história é tão simples que consegue tornar a leitura rápida e agradável.
Enredo: Cirino se apaixona perdidamente por Inocência (que o corresponde posteriormente), mas não podem ficar juntos pois ela já é noiva de Manecão. Culmina em final trágico, obviamente. Juro que TODO o resto é só pra história ter mais volume, drama, emoção e os próprios personagens não sacarem o final até ele chegar. Mas é esse "todo o resto" a parte mais divertida da narrativa, onde se encontram as demais personagens, como o Pereira (pai de Inocência) e o Dr. Meyer (o alemão atrapalhado).
Como havia de ser uma obra romântica que se preze, a heroína é moça pura e, principalmente, imaculada. A castidade é posta como ápice da beleza e, é claro, inocência desse amor sublime vivido pelos protagonistas.
Minha personagem preferida é o tal Dr. Meyer, o alemão especialista em "anincetos" que estava rodando o Brasil atrás de espécies raras para apresentar para a Sociedade Geral Entomológica de sua terra natal. Tá, vou falar a verdade: essa personagem me divertiu principalmente por sempre me fazer recordar da musiquinha nada "casta e inocente" da infância "Nabuco foi no mato caçar borboleta e...." SENSACIONAL!
Vale também dizer que me emocionei com o desfecho da trama (mesmo sendo totalmente previsível), chegando a QUASE lacrimejar. Além disso, o fato do pesquisador de insetos ter descoberto uma nova borboleta e a ter batizado de "Papilio Innocentia" é, apesar de pedante, um belo final.
Definindo o livro em duas palavras, fico com engraçadinho e bonitinho. Quando guardado na prateleira deve ficar ao lado de um quase "primo", outro clássico do romantismo nacional, "A Moreninha" de Joaquim Manoel de Macedo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Bom-Crioulo - Adolfo Caminha


Mais um livro que só o vestibular me permitiu chegar perto! Obra naturalista escrita em 1895 e que sambou na cara da sociedade da época, abordando o homossexualismo como tema central e, indo além, tendo um negro como personagem principal.

A leitura é um pouco chatinha e difícil porque foi escrita em um português do século XIX, mas é só ignorar as infinitas descrições da paisagem e principalmente o vocabulário marítimo que tudo fica lindo. Acontece que o Sr. Caminha foi da Marinha durante um bom tempo antes de virar, como que do dia pra noite, escritor. Aí ele achou que ia ser legal se os personagens principais fossem marinheiros.

A história se passa assim, Amaro (conhecido pela alcunha de Bom-Crioulo), um negro forte, sexy delicia (tem quinhentas descrições ao longo da obra sobre o corpo do boy magia) e excelente marinheiro, tava indo muitíssimo bem, obrigado, na vida a sete léguas. O mais obediente, prestativo e já experiente marinheiro, até a chegada dum loirinho de olhos azuis – Aleixo – à tripulação. Amaro fica total ‘in love’ pelo jovem padawan Aleixo, de meros 15 anos, e resolve ser um bom macho e cortejar o mancebinho.

Aleixo era um molequinho bobo e vaidoso, e gostou das atenções e proteções dadas por Amaro, aí meio que se deixou levar e assim começa o “romance” dos dois. Então, o coitado do Bom-Crioulo todo bobo resolve descolar um quartinho em terra pros dois viverem de paixões quando estivessem de folga, e vai numa pensão de uma velha amiga, uma tal de Dona Carolina, uma ex-prostituta (sei lá se isso existe) portuguesa.

É interessante que essa Carolina é pra ser daquelas mulheres mais velhas que nos anos 80/90 chamavam de “idade da loba”, quando a mulher era muito da experiente e pegava geral. Gosto do jeito que eles chamam no seriado How I Met You Mother – cougar (descobri recentemente que este é um termo recorrente em filmes para adultos).

Em todo caso, Bom-Crioulo acaba sendo mandado pra outro navio, diferente do de Aleixo e por isso as folgas não coincidem, o que dá a oportunidade de Aleixo conhecer melhor a lusitana safadinha. Sei que rola um amor típico de filme adolescente americano, em que o menino mais bobão acaba pegando a mãe de um amigo e vive momentos intensos de paixão (vide American Pie para maiores esclarecimentos).

Nisso, Bom-Crioulo surta, briga feio na rua e fica internado num hospital depois de ter levado uma bela duma surra a mando do comandante do navio em resposta a seu comportamento nada exemplar. No hospital Amaro pira de vez, até resolver fugir e ir ao encontro de Aleixo, o que culmina em um trágico final – o homicídio de Aleixo pelas mãos de Bom-Crioulo.

História TENSA! Apesar da linguagem bizarra do século XIX eu gostei muito da leitura, que foi bastante rápida já que o livro é bem curtinho. Quem tiver paciência pra decifrar as expressões deve ler a obra, recomendadíssimo!

Anjo Negro - Nelson Rodrigues


Confesso que nunca havia lido uma obra sequer do referido autor, mas já tinha os maiores preconceitos do mundo contra seus polêmicos temas e sua forma de abordá-los. Estava agindo como uma criança que diz odiar um vegetal que nunca antes experimentou, mas veja bem, eu tenho uma boa desculpa! Acredito que a minha educação cristã ainda não saiu totalmente da minha cabeça e me torna por demais bitolada para muitos assuntos ainda, mas é algo que estou solucionando aos poucos, juntamente como lento diagnóstico da própria patologia.

Mas, voltando à obra, deixei meu preconceito de lado em razão de um objetivo maior – prestar novamente o vestibular, depois de todos esses anos (meu 1º foi em 2005). E posso afirmar que valeu a pena!

Anjo Negro é uma obra teatral, escrita por Nelson Rodrigues em 1946, sendo tão chocante e polêmica que só pode estrear em 1948, em razão da censura da época. O “roteiro” de peça é bastante breve, sendo lido (ou devorado) rapidamente, ainda mais por ter como trama uma verdadeira insanidade, misturando os temas racismo, estupro e incesto.

*ATENÇÃO, A PARTIR DESTE PONTO PODE HAVER SPOILERS DA HISTÓRIA

A peça gira em torno de um casal, Ismael (negro) e Virgínia (branca), cujos filhos sempre acabam mortos ainda muito pequenos. Ao longo da leitura você vai descobrindo que Virgínia só se casou com Ismael por obra da tia com quem morava, pois supostamente ela havia seduzido o noivo de uma de suas primas, levando esta última ao suicídio. Sendo assim, a tia se vingou da tão bela Virgínia, mandando que Ismael estuprasse Virginia.

Ismael se apresenta como um sujeito que tem vergonha, ou até mesmo verdadeiro pavor, de sua ascendência, julgando que ser negro é ser inferior, e que os brancos é que são educados. Todo esse drama da personagem foi inserido na história para retratar o pensamento preconceituoso daquela época. Virgínia sente repulsa e atração pelo marido na mesma medida, e ambos em razão da cor da pele de Ismael.

Logo no início da narrativa as personagens são surpreendidas pelo aparecimento de Elias, o irmão branco e cego de Ismael, com quem Virginia se envolve e acaba grávida. Ismael descobre o ocorrido, mata o irmão e ao mesmo tempo Virginia assume que era ela quem matava os próprios filhos, por nascerem todos negros como o pai.

A reviravolta se dá quando nasce o filho de Virginia com Elias, uma menina branca que Ismael trata de logo cegar pois vê nessa menina a oportunidade de ser realmente amado fazendo se passar por branco (aproveitando-se da cegueira da menina). Nesse ponto se percebe o quanto Ismael acredita que ser branco é ser superior. A coisa toda dá certo, uma vez que Ana Maria é loucamente apaixonada pelo negro que se diz seu verdadeiro pai, e odeia Virginia sua mãe.

O final não precisa ser estragado, só vale dizer que a alusão feita à Branca de Neve, é a melhor parte de todas. A história é meio macabra, cheia de mortes, vinganças, inveja e ciúmes. A parte do incesto é nefasta demais para ser descrita, mas acho que as obras que te fazem sentir algo, mesmo que repulsa, são obras bem escritas. Em resumo: leitura extremamente recomendada, até porque não leva mais que 2 horas (lendo bem lentamente) para fazê-la

Fumaça e Espelhos - Neil Gaiman


Pra ser bem sincera, minha intenção inicial era ler Drácula de Bram Stoker, mas o sujeito que trabalha na Casa da Leitura da Praça da Espanha não fazia ideia do que eu estava falando. O jeito foi me propor a procurar sozinha algum título que me despertasse o interesse. Foi quando me deparei com o nome de um dos meus escritores preferidos (como já deixei BEM claro em posts anteriores) - Neil Gaiman.

Fumaça e Espelhos é outro livro de contos de Gaiman, anterior ao Coisas Frágeis e com um número maior de contos que o mesmo. Os contos de Fumaça e Espelhos foram escritos em épocas completamente diferentes, seguem estilos bastante distintos entre si e possuem temática variada. Demorei séculos para lê-lo, pois tive a brilhante ideia de pegá-lo durante a época de festas de fim de ano. Maaaaas, enfim terminei e fiquei absolutamente fascinada com a leitura. Vou fazer o mesmo esquema do outro livro: ir conto por conto.

Lendo as Entranhas: Um Rondel: Gaiman abre o livro com esse poema, sobre o futuro/destino e coloca nele um prefácio que consiste em um trecho do livroAlice no País dos Espelhos de Lewis Carrol. Só tenho a dizer que a escolha do prefácio mostra muito mais do que eu gosto em Gaiman do que o poema em si. Não sou fã de poemas.

O Presente de Casamento: segundo Gaiman a idéia desse surgiu quando amigos seus iriam se casar e ele achou que seria legal lhes dar um conto de presente de casamento. Lógico que depois de pensar melhor ele concluiu que uma torradeira seria muito mais útil. Guardou a idéia para vendê-la, e eu sinceramente acho que foi melhor assim. Se bem que eu adoraria ganhar um conto de presente de casamento, ainda mais um tão macabro quanto esse. Bem estilo Gaiman de escrever, linguagem simples, fácil e intrigante. Ótimo final. Outra coisa interessante sobre esse conto é que ele fica "escondido" na introdução, ou seja, quem costuma pular essas partes perde uma excelente narrativa.

Cavalaria: nas primeiras páginas do livro, Neil Gaiman fala um pouquinho sobre cada conto, por que o escreveu, qual foi sua fonte de inspiração, etc. No caso desse conto, o que eu mais gostei foi o quanto o autor satirizou uma dissertação acadêmica feita a partir de seu conto. Acho legal isso, o quanto tem pessoas que acham que sabem o que o autor quis dizer com o que escreveu, as idéias ocultas e tudo o mais e no fim, estão completamente equivocados. Mas voltando ao conto em si, narrativa divertida sobre um suposto paradeiro do Santo Graal. Uma história divertida e muito, fazendo uso do adjetivo dado pelo próprio autor, simpática.

Nicholas Era...: infelizmente já tinham se passado 02 dias desde o Natal quando eu li esse conto. Uma pena. Teria sido muito melhor do que a imagem bonitinha de roupas do Papai-Noel que eu coloquei no meu Facebook. Sim, é um conto natalino. Não, não é sobre o espírito natalino ou a época de perdoar e fazer boas ações, muito pelo contrário...

O Preço: esse conto me fez lembrar daquele seriado brega O Toque de um Anjo(Touch By an Angel), que passava sabe deus em que canal. Mas é como se fosse a versão Gaiman desse seriado, envolvendo mais drama e muito mais sangue e violência. Adorei a mescla de anjos com gatos, fez sentido apesar de parecer que nunca faria.

A Ponte do Troll: esse conto me rendeu um novo vício musical – The Stranglers. A banda punk setentista é citada no início da história, e não agüentei de curiosidade, fui correndo pro youtube dar uma ouvida. Resultado: to viciada numa música deles chamada Golden Brown (se você não conhece, por favor ouça-a, vale a pena). Esse conto tem um ar de melancolia, e achei que faltou alguma coisa, mas não sei o que. É como aquela comida, que você experimenta repetidas vezes, sabe que falta algo, mas não consegue de jeito nenhum descobrir o que, e não quer arriscar um palpite, porque sabe que isso tem grandes chances de arruinar o prato.

O Palhaço: eu tenho pavor de palhaço. Acho que só o tema já consegue deixar qualquer história aterrorizante. Essa é sobre uma daquelas caixinhas Jack in the Box, sabe-se lá o nome desse troço em português. Mas enfim, segundo Gaiman a inspiração veio de uma escultura da artista plástica Lisa Snellings, outra coisa que vale a pena procurar, caso ainda não seja de seu conhecimento. Não tem mais nada pra falar além de que é um conto de terror, mesmo.

O Lago dos Peixes Dourados e Outras Histórias: não gostei muito desse conto. Fiquei meio entediada e decepcionada com o drama que Gaiman fez parecer ser quando uma produtora de cinema resolve transformar um título literário em filme. Não que seja exatamente assim, afinal histórias acabam exagerando a realidade, mas tenho certeza que não é muito diferente, não.

A Estrada Branca: o que eu mais gosto nas histórias do Gaiman é o quanto ele é influenciado por outros grandes escritores e, melhor de tudo, o fato dele efetivamente revelar suas fontes. Esse conto mais do que macabro me lembrou muito aquele filme A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, não propriamente pela história, mas algo no conto me fez imaginá-lo com a mesma fotografia do referido filme. Estou bastante desejosa de ler A História do Sr. Fox, uma das inspirações para esse conto bizarro e demente (isso são elogios, só pra constar).

A Rainha das Facas: por causa da temática (show de mágica e ilusões) esse conto me lembrou muito aquele outro, que tem no livro Coisas Frágeis, Os Fatos no Caso da Partida da Senhorita Finch. Não gostei muito desse conto, acho que o final me chocou muito, fiquei meio triste. Ou vai ver que foi porque eu li num momento não tão bom: dentro de um ônibus de viagem, completamente ansiosa por chegar ao meu destino. Se, eventualmente, lê-lo de novo saberei dizer. Mas agora não é o momento.

Mudanças: se existe um conto que define a palavra bizarro, é esse. Não sei bem que tipo de adjetivo usar, chocante parece muito pouco. Pansexualismo é uma das palavras que pode ajudar a entender o conto. Ficção científica da espécie mais sinistra também. É um bom conto, mas deixa qualquer pessoa atormentada.

A Filha das Corujas: esse é relativamente curto e agonizante. Adorei o final.

Shoggoth’s Old Peculiar: esse conto me fez perceber que, enquanto eu não criar vergonha na cara e não for atrás de alguma obra de H. P. Lovecraft eu vou perder MUITA coisa contida nos contos de Neil Gaiman. Lovecraft é simplesmente uma das maiores inspirações de Gaiman, e parece ser bastante interessante, talvez fantasioso demais e um pouco pedante, mas quem não gosta de uma bizarice pomposa, não é mesmo? O fato de criticar aqueles guias de viagem é genial. É um conto divertido, mas aposto que seria ainda mais se eu entendesse da obra de H. P. Lovecraft, nem que fosse só um pouquinho.

Vírus: o conto em si é meio fraquinho, na minha opinião, mas o porque dele é muito bom – jogos de computador se infiltram em nossas cabeças de uma forma viral! Não sei se acontece com todo mundo, mas sempre que eu fico um certo tempo jogando qualquer coisa eletrônica, em especial antes de dormir, eu tenho sonhos com os jogos. Talvez eu deva parar com esses jogos, sonhos com blocos coloridos ou tabuleiros de sudoku não é muito agradável.

Procurando a Garota: um conto muito bem escrito sobre um cara que fica enlouquecido por uma mulher que ele vê numa revista masculina. A saga toda é bem intrigante e triste, em certo ponto. Adorei o fato de Gaiman explicar que o conto não tem nada a ver com mulheres, mas som com fotografias de mulheres.

Apenas o Fim do Mundo Novamente: se existisse (ou existir) um ranking de histórias bizarras, totalmente fantasiosas, piradas e que mesclam tudo que tem de esquisito no universo, essa certamente estaria entre as 10 primeiras. Mas não adianta, eu nunca resisto à esse tipo de história, ainda mais quando colocam lobisomem no meio (crepúsculo não pode ser considerado obra literária no meu mundo, pelo menos não com alguma validade, antes que alguém mencione). Mas, de novo lá está ele – H. P. Lovecraft, aquele maldito. Certamente depois que eu criar vergonha na cara e ler ao menos uma obra desse sujeito eu vou ter que ler esse livro de novo. Aposto que muita coisa vai mudar.

Bay Wolf: sen-as-ci-o-nal! É digamos uma espécie de releitura do poema épico “Beowulf”, com pitadas do seriado Bay Watch. Infelizmente não existe um correspondente direto da Pamela Anderson no conto, o que, na minha opinião, seria divertidíssimo. Mas enfim, o trocadilho brilhante do título é genial, já que de novo rola um lobisomem na história (o mesmo personagem do conto anterior). Eu adorei.

Arremate por Atacado: essa história é brilhante. Muito inteligente e perspicaz, pois ao mesmo tempo que engraçada, acaba sendo bem dramática. Em resumo trata de uma “pequena” gafe que é possível fazer em nome de uma boa promoção. Todo mundo adora promoção, vai.

Uma Vida Gestada nos Primeiros Trabalhos de Moorcock: aqui tem outro autor que eu desconheço COMPLETAMENTE e cuja leitura da obra é essencial para entender melhor o conto – Michael Moorcock. Esse conto é ótimo pois, segundo Gaiman, o personagem principal é uma representação dele mesmo quando criança. Isso é ótimo no ponto em que muita coisa sobre a personalidade do escritor é revelada, não exatamente a personalidade, mas coisas que ele gosta, acredita. Tá, vou falar a verdade, fiquei feliz porque descobri que ele realmente teve uma desilusão com As Crônicas de Nárnia como eu havia suposto. Adoro estar certa, e esse conto me fez entender o que diabos tinha acontecido. De resto é um bom conto, um pouco pesado, mas um bom conto. O final me fez sorrir.

Cores Frias: é pra ser sincera? Achei horrível. Já falei ali em cima que não sou fã de poemas. Talvez por ignorância, porque eu realmente não consigo entender esses troços. Talvez seja uma questão de gosto, afinal o que seria do azul se todo mundo gostasse do amarelo, certo?

O Varredor de Sonhos: como conheci Gaiman graças à aclamada história em quadrinhos Sandman, posso afirmar que “sonho” é uma temática que me atrai MUITO, e que Gaiman sabe tratar como ninguém. É uma história bonita e triste. Gosto de coisas assim.

Partes Estrangeiras: só agora, escrevendo esse post, é que eu entendi o título. Devo alertar que se trata de uma história pesada, com um final digno de um episódio de “Além da Imaginação” (The Twilight Zone).

Sestina do Vampiro: serviu pra eu aprender o que é uma sestina. Poema, poesia e qualquer derivação não passa no meu crivo. Meu cérebro automaticamente separa pra pasta “chato” e eu tenho uma dificuldade tremenda de me concentrar na leitura, fato.

Camundongo: segundo o autor, esse conto foi feito para uma antologia de histórias sobre superstição. Desconheço a superstição a que este conto faz alusão, ou sou realmente muito tapada, ou li sem um pingo de atenção (tudo é possível). A parte mais bizarra é uma transmissão de rádio que o personagem ouve durante a trama e que, segundo Gaiman, é verídica.

A Mudança do Mar: não gostei. Não entendi. Não prestei atenção. Sei lá. O tipo da coisa que não me prendeu, que eu li umas 3x a mesma frase e ainda assim me perdia, e voltava e pulava e no fim de tudo eu ainda continuei não gostando. Mas conheço alguém que provavelmente gostaria...

Quando Fomos Assistir ao Fim do Mundo. Por Dawnie Morningside, Idade: 11 anos e 3 meses: esse conto é ótimo. Como se fosse escrito por uma criança de onze anos. Sendo bem sincera mesmo, não parece que foi escrito por uma criança de onze anos, fail se a intenção era mesmo parecer isso. Mas é divertidíssimo. Totalmente fantasioso e engraçado num estilo de humor de seriado. Taí, daria um bom seriado.

Gostos: o tema parece sexo no começo, mas acaba sendo uma ficção científica das mais brilhantes que eu já li. Amei esse conto, um dos preferidos CERTEZA. A questão da leitura de mentes é um assunto me fascina em excesso, aí já viu né! Me ganhou.

Bolinhos de Bebê: um jeito muito bom de falar sobre as atrocidades que os humanos fazem com os animais.

Mistério de Assassinato: esse conto me deixou completamente arrepiada. Fala sobre anjos, e sobre a injustiça divina. Vale MUITO a pena ser lido.

Neve, Vidro e Maçãs: e como seria a versão da madrasta da Branca de Neve? Quem disse que ela não tinha seus próprios motivos pra fazer tudo o que fez? Como podemos saber se a Branca de Neve era mesmo a boazinha da história se só ouvimos o lado do vencedor, hein? Esse conto é uma bela releitura da minha história infantil preferida, contou muitos pontos por causa disso.

Pra resumir bem resumido, Gaiman abriu de forma estupenda com “O Presente de Casamento” e guardou a nata pro final, com esses últimos 04 contos. Gosto cada vez mais desse brilhante escritor inglês e pretendo ler as obras que lhe serviram como referência o quanto antes!

quinta-feira, 24 de março de 2011

V de Vingança - Alan Moore e David Lloyd



Tudo bem que não é um livro, e sim uma "série de romances gráficos" - história em quadrinhos, mas tendo qualidade literária de que importa o gênero, certo?
Eu sou uma grande entusiasta das HQs, tanto que foi através de uma delas (Sandman) que eu tive o prazer de me deparar com meu amado Neil Gaiman.
Claro que eu vi o filme de V de Vingança, assim como a grande maioria da população mundial, o que foi uma pena. Antes tivesse lido a HQ. Filmes podem ser ótimos e tudo o mais, mas sempre, eu disse SEMPRE, deturpam as histórias originais.
Voltando à HQ, nem preciso dizer que me empolguei horrores com a narrativa e nos momentos que resolvi sentar e ler era difícil largar a bendita. Adoro histórias violentas, sou verdadeitamente apaixonada por autores que citam Shakespeare e que passam ideologias em suas histórias.
V de Vingança é resumidamente sobre Anarquia. Aqui seria interessante abrir um parênteses e explicar o que me atrai na Anarquia: a ideia de ser livre de hierarquia. Sim, eu tenho problemas sérios com autoridades forçadas e impostas. A simples concepção de estabelecer uma ordem apenas porque todos assim a desejam é tão maravilhosa aos ouvidos como a própria palavra 'liberdade'.
Sobre a obra em si, achei que durante o primeiro e o segundo tomo existe um ritmo que foi perdido no terceiro e último tomo. Não sei se é proposital ou o que. Adorei o final, bastante poético.
Como boa ratinha de biblioteca que sou, apenas ler a história não me bastou, e gostei muito da pequena explicação dada por Moore de como surgiu a ideia para a criação da trama e do personagem principal. Adorei certas colocações feitas por ele, como a dificuldade enfrentada por escritores/roteiristas/artistas em momentos de lapsos de criatividade.
De qualquer forma, acredito que HQs devem ser boas pra pessoas que tem aquela certa preguiça de ler. Não tem muito texto, juro que rapidinho você chega ao final, o que é uma pena, mas atrai muita gente.
Pra finalizar, fato que irei me apoderar de algumas citações feitas pelo personagem principal para a confecção de lambes. Eu e minha vontade de dividir com o mundo as coisas que me intrigam e fascinam...

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Caso de Charles Dexter Ward - H. P. Lovecraft



É incrível como as coisas simplesmente acontecem em nossas vidas. Ou esse tal de "acaso" é realmente muito corriqueiro ou aquele maldito "destino" adora fazer uma gracinha. Um amigo tinha comprado de presente de aniversário esse livro pra mim, antes de eu declarar de maneira desesperada que PRECISAVA começar a ler Lovecraft por causa do Neil Gaiman.
Enfim, histórias fantásticas da minha vida a parte, o que importa é que eu entendi o porque desse autor americano ser tão apreciado por meu escritor preferido, ele é realmente inspirador.
Howard Phillips Lovecraft foi um cara extremamente brilhante e perturbado, que teve uma vida bem trágica durante o final do século XIX e o começo do século XX. O que lembra em demasia um outro escritor de quem gosto muito: Edgar Allan Poe.
Acho que esses caras melancólicos, que tiveram vida sofrida, depressão, montes de mortes de entes queridos, têm uma tremenda tendência (e facilidade) para se dedicarem ao gênero do terror.
A obra aqui analisada, em especial, é bastante perturbadora. Em resumo é a história de um jovem, fascinado pelas pesquisas históricas, que acaba descobrindo ser descendente de um alquimista. Acontece que o jovem tinha real força de vontade e empenho e decide estudar todos os documentos antigos que encontra e acaba se enfiando numa furada. A tal furada vai sendo desvendada pouco a pouco por um médico psiquiatra, amigo da família e é ele quem vai se tornando o personagem principal da narrativa.
Acredito que adjetivos como macabro, doentio, terrível e perturbador são excelentes para definir a obra.
Achei magnífico e estou tremendamente ansiosa para ler outras obras desse fascinante escritor.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sonho de Uma Tarde de Verão

Bom, dessa vez não vou escrever resenha sobre a obra de ninguém. É apenas uma tentativa de escrever algo meu. Depois de uma singela frase postada no meu Facebook que rendeu muitos comentários resolvi escrever esse conto. Espero que gostem.


Sonho de Uma Tarde de Verão

Eu estava ansiosa para comprar essas passagens, com um verdadeiro frio na barriga só de pensar que seria minha primeira viagem totalmente sozinha. Decidi que segunda-feira à tarde parecia um bom dia para ir até a rodoviária garantir as passagens para a viagem no final de semana.

Não sei exatamente porque, mas fiz questão de me arrumar antes de sair, usando inclusive meu estimado batom vermelho. Acho que queria estar bonita para fazer isso, parecia algo importante. Quando cheguei à porta tive que subir as escadas novamente, pois tinha me esquecido de passar perfume.

Durante todo o trajeto de ônibus até a rodoviária fiquei imaginando como seria a viagem, se eu acabaria me perdendo ou, quem sabe, me encontrando.

A fila das passagens estava enorme, começo de ano, férias de verão, é assim mesmo... Foi quando, depois de verificar as horas pela terceira vez, olhei para o lado e o vi. Não sei dizer o que exatamente me chamou a atenção nele, não era lindo e nem charmoso, apenas diferente.

Nossos olhares se cruzaram e foi assim que o tempo parou. Não sei como e muito menos por quanto tempo, mas parou. Não tiramos os olhos um do outro e senti meu coração bater acelerado. Ele sorriu. Eu sorri de volta. Continuamos apenas nos olhando e sorrindo.

Só voltei à realidade com a senhora que estava atrás de mim me cutucando e avisando que eu era a próxima a ser atendida. Foi como se tivesse acordado de um sonho.

Caminhei até o guichê e quando olhei na direção em que ele antes estava simplesmente não havia ninguém, dei uma procurada rápida com os olhos e não vi nem ao menos ele por perto, indo embora. Sumiu como se nunca tivesse estado ali.

Na volta para casa, a chuva batia com força na janela do ônibus, um verdadeiro temporal de verão. Não deixei de pensar nele um segundo sequer. Mesmo tendo um guarda-chuva fiquei ensopada só de andar do ponto até em casa.

Em frente ao meu prédio tem uma sorveteria que eu considero uma espécie de refúgio. Sempre que tenho algo em mente atravesso a rua, peço um sorvete de cereja e decido que tenho o tempo de terminá-lo para pensar no assunto.

Foi por isso que, ao invés de entrar em casa, mesmo com os pés encharcados, atravessei a rua. Depois da última colherada de sorvete de cereja concluí que preferia imaginar tudo como um sonho. Um daqueles que a gente tem às vezes, totalmente acordados, em meio a multidões, e que tem a capacidade mágica de fazer o tempo parar.