sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles


Êêêê listinha infinita do vestibular!
Cecília Meireles = POESIA. O que eu penso disso? Quem teve a coragem pra ler um único post meu já sabe que eu não tenho cultura suficiente pra gostar de poesia, então pense na tortura!
Mas, apesar da cara retorcida que fiz ao iniciar a leitura, tenho que dar um crédito pra Meireles e dizer que quase cheguei ao ponto de curtir o livro. Não que eu tenha entendido TUDO, mas consegui inclusive utilizar algumas estrofes para um futuro projeto.
O livro é um apanhado de poeminhas, que a autora chama de "romances", chegando assim ao título do maldito livro. O cenário é a cidade de Vila Rica bem na época da Inconfidência Mineira (1789), e a trama gira em torno de trocentos personagens e suas vidas, dramas, e envolvimento no episódio. Não tem muito mais pra dizer, porque é só isso mesmo, mas me custou MUITO tempo pra ler. Em parte preguiça por conta da forma de narrativa e em parte porque estou bem sem tempo mesmo.
Adorei um certo "romance" chamado DO JOGO DE CARTAS. Quem me conhece sabe a fixação que tenho por baralho e naipes, então tudo passa a fazer sentido.
Fora isso, realmente gostei muito de certos trechos, sobre vida, morte, traição e dor, que pretendo fazer uso mais tarde.
Espero que os outros 2 títulos sejam mais agradáveis para meu gosto literário...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Urupês - Monteiro Lobato


Eu estava apreensiva quanto a este livro. Achava que ia ser chato, difícil e conteria provas contundentes para tornar o boato de que Lobato era racista real. Eu estava completamente enganada. Urupês é um livro de contos escrito em 1918 que virou uma espécie de "best seller" da época. Com esse livro pude perceber duas grandes preocupações de Lobato: ambientais e políticas. Seus trabalhos são grandes críticas ao descaso com o meio ambiente e ao cidadão brasileiro que não se preocupa com nada. Genial!
Como de costume, vou fazer um "conto a conto".

01 Os Faroleiros: começando muito bem o livro com um conto ligeiramente macabro, sobre vingança e loucura. Ambientado em um farol, coisa que desperta muito meu interesse, achei um excelente conto.

02 O Engraçado Arrependido: esse daria um ótimo curta. Conta a história de um sujeito que era hilário, e que no começo acha isso um trunfo, mas tudo cai por terra quando percebe que absolutamente ninguém consegue o levar a sério. Nem mesmo ao final... ironicamente triste.

03 A Colcha de Retalhos: chorei (não que seja novidade) com esse conto. Uma senhora fofa faz uma colcha com todos os trapinhos de tecido que foram usados para vestir sua netinha, com o objetivo de lhe servir de enxoval. Acaba que todas as pessoas importantes se vão, incluindo a neta, que larga a senhorinha assim, sem mais nem menos. Muitíssimo triste.

04 A Vingança da Peroba: para mim esse conto diz duas coisas importantes. A primeira é que nada que for feito sob o sentimento da inveja e da vingança vai pra frente. A segunda é que deve-se sempre respeitar a natureza, ou ela vai se voltar contra você rapidinho. Final macabro sensacional.

05 Um Suplício Moderno: exploração dos "pacatos cidadãos". A tortura causada pelo trabalho quase que escravo. Interessantíssima a representação desse assunto através desse conto.

06 Meu Conto de Maupassant: alusão ao contista francês Guy de Maupassant, que tinha predileção pelas tramas psicológicas. Um sujeito narra a outro um caso de pura tormenta psicológica em que um italiano é acusado de um crime que não cometeu, mas que mesmo assim isso o tortura de forma tão vil que o leva ao suicídio. Sem explicações, apenas isso.

07 "Police Verso": não gostei desse conto. O "mal" triunfa. Narra a história de um menino maligno que torturava animais e se torna médico por conta da grana. Aí ele engana um pobre doente, faz ele morrer pra receber mais do que se o tratasse e vai morar em Paris. E o pai é um iludido que acha que ele é um grande médico e que estava na França estudando, ao passo que o desgraçado vai lá ficar com uma cortesã! Me indignei.

08 Bucólica: o nome diz tudo. Aquela paisagem rural, sossego, flores e coisas assim. Porém, a história é deveras depressiva. Mãe ruim deixa filha aleijada morrer de sede. Horrenda.

09 O Mata-Pau: história TENSA! A explicação é simples, mata-pau é uma espécie de parasita que só faz sugar uma determinada árvore até secá-la de vez. Acontece que um casal encontra um bebê e o adota, mas o menino se mostra um verdadeiro aproveitador. Acaba com a vida dos dois e vai embora.

10 Bocatorta: não entendi direito qual o intuito desse conto, mas fiquei com muita pena da aberração de alcunha Bocatorta. Ele era só deformado e por isso tratado como monstro, achei horrível.

11 O Comprador de Fazendas: muito bom! Um cara malandrex engana uns matutos fingindo que vai comprar sua fazenda e nunca mais volta. Passa um tempo ele ganha na loteria, resolve que realmente quer comprar a tal fazenda e vai até lá. Os fazendeiros, revoltados, expulsam o cara a ponta pés e todos saem perdendo. Maluquice pura!

12 O Estigma: mais um continho macabro. Um crime que ao final é denunciado por um recém nascido e sua marquinha de nascença. Bizarro e triste.

13 Velha Praga: o mal do século tem um nome: caboclo. Aqui ele faz uma crítica, dizendo sobre os desmatamentos, e que toda a destruição da natureza é ignorada pelos homens. Que as pessoas tratam genocídios como grandes calamidades, mas queimadas nada significam. Achei bem interessante. Os eco-chatos iriam amar.

14 Urupês: aqui Monteiro Lobato descasca o chamado caboclo, e o personifica em Jeca Tatu. Fala sobre a "lei do menor esforço" e do orgulho que os brasileiros sentem em ser descendentes desse tipo de ser. Muito bem escrito, e com uma excelente crítica à nossa sociedade, que apesar de mudança de século não mudou em absolutamente nada!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Felicidade Clandestina - Clarice Lispector


E a saga da listinha da UFPR continua. Correndo o risco de sofrer bullying literário e nunca mais ser respeitada por ninguém (como se ainda tivesse algum respeito a perder), essa foi a obra 'indicada' mais difícil de ler até o presente momento! Por se tratar de um livro de contos prefiro usar aquela tática de ir conto a conto para expressar melhor o que essa leitura me trouxe. E antes de mais nada, eu NUNCA havia lido Lispector (ou achava isso). Sem contar é claro as 20475625465214511 zilhões de citações escritas em tweets. Não sei quem foi o sábio que disse que deveriam fazer um Twitter com uma ferramenta própria para reclamar do clima e outra para citar Clarice Lispector. Mas enfim, vamos aos contos.

01 Felicidade Clandestina: conto que dá nome ao livro (OH REALY?), e um dos poucos que eu realmente gostei. Pra dizer bem da verdade eu me assustei quando fui percorrendo as linhas por um motivo bastante inusitado. A primeira vez que mostrei algo escrito por mim ao meu namorado ele logo perguntou se eu gostava de Lispector. Eu ri e respondi que nunca havia lido, e ele falou que havia uma certa semelhança na escrita. Nesse conto eu devo concordar. E descobri inclusive qual a semelhança, essa necessidade de escrever de forma a mostrar o sentimento do personagem/narrador e "meio que" escrever como se fala/pensa. Maaaas, voltando ao conto adorei a felicidade da menina proporcionada por um livro.

02 Uma Amizade Sincera: tá, aqui a coisa já começou a ficar um pouquinho estranha pra mim. Primeira crítica, só eu que acho que Lispector não consegue criar personagens homens? Eles ficam ora afeminados ora totalmente robóticos ou mesmo falsos. Mas enfim, história triste sobre amizade, em parte retrata um sentimento real, de desconforto que algumas amizades acabam nos trazendo, mas não acredito que isso possa acontecer numa amizade como a narrada no conto.

03 Miopia Progressiva: pronto, depois desse conto eu já tava criando um pequeno ódio pela autora. Me perdi muito nas ideias contidas aqui. Foi quando me toquei que o problema, a meu ver, é que ela só joga as ideias no papel, um turbilhão de ideias/pensamentos/falas/situações, assim sem ordem específica. Não que seja ruim, só é estranho... E outra, juro que tentei entender esse lance da metáfora da miopia que realmente o faz enxergar com qualquer coisa em nossas vidas, mas acho que sou burra ou sem criatividade DEMAIS pra isso, sorry. Mas todos os possíveis pensamentos que passam na cabeça de um menino acerca das coisas que são faladas pra ele, a fantasia que ele faz das situações e a preocupação com os acontecimentos e suas consequências são muito verídicas. Achei encantador.

04 Restos do Carnaval: apesar de eu achar totalmente bizarro esses contos sobre a infância, onde ela faz uma criança de 08 anos pensar como um adulto (sem nexo, beijos), eu achei esse conto bem gacioso. Mas depois eu ia descobrir que 75% dos contos dela são sobre o "desabrochar" (tanto de meninos quanto meninas, TODOS se descobrem finalmente mulheres ou homens).

05 O Grande Passeio: um dos meus preferidos. Chorei litros. Adoro pessoas idosas, e essa velhinha tocou meu coração. Como e porque ninguém entende que vai ficar velho? E como ninguém entende que uma pessoa "velha" já foi jovem e viveu tudo e mais um pouco do que os outros que se julgam assim tão jovens? Achei lindo e extremamente triste esse conto.

06 Come, Meu Filho: tá Clarice, já entendi o que você faz. ABSOLUTAMENTE tudo que essa mulher escrevia era a partir de seu cotidiano. Foi nesse conto que a ficha caiu. Ela só escrevia sobre o que ela via/fazia/conhecia. Realmente o que ela faz são retratos do cotidiano de forma "especial". Acho bem válido, faz enxergar as coisas mais banais com outros olhos. Devaneios feitos a partir de perguntas de criança deveria ser o título alternativo desse conto.

07 Perdoando Deus: tudo é lindo, sou linda, sou amor, sou divina, opa! Um rato morto no meio do caminho. Poxa Deus, não me sacaneia cara! Essa é a minha versão desse maldito conto que dá voltas e mais voltas pra falar que não se pode brincar de Deus e nem ficar de cara com ele, TUDO tem sua razão de ser no plano do divino ZZzzZZzzzZZzzz

08 Tentação: ah, esse é bonitinho. Um conto de uma vida e um drama inteiro que deve ter sido vivido em algo em torno de 6min. Uma menina que é sozinha no mundo, e encontra um cachorro que deveria ser seu, mas não pode ser. E é isso. HAHAHAHAHAHA.

09 O Ovo e a Galinha: esse foi o conto que me levou uns 3/4 dias pra ler. Sim, um único conto teve a habilidade de me fazer odiá-lo ao ponto de levar mais tempo para lê-lo do que um livro inteiro (como Anjo Negro). Não estou falando que é ruim, ou mal escrito, de forma alguma. Mas é muito intenso, são ideias DEMAIS jogadas em sequência, difícil absorver tudo. Preciso ter paciência e ler mais umas 3x pra começar a fazer sentido. Com esse conto eu cheguei a uma conclusão. Eu vivo pensando coisas aleatórias, que levam a outros pensamentos e outros e por aí vai. Brainstorm seria a palavra mais adequada. Acontece que eu sempre quis descobrir um meio de passar TODOS esses pensamentos com ou sem nexo prum papel, exatamente da forma como eles surgiram na minha cabeça. Acho que Clarice descobriu como fazer isso, pois esse conto retrata bem um Brainstorm (esse e os outros...).

10 Cem Anos de Perdão: quando eu falei que nunca havia lido Clarice (tirando as citações) eu estava falando a verdade, ou pelo menos o que eu acreditava ser verdade. Foi ler a primeira linha desse conto que eu me lembrei. Lembrei de muita coisa, lembrei até de como eu me sentia quando li esse conto pela primeira vez. Me lembrei da minha professora, dos meus colegas, da minha vida naquela época. É um conto bonito, sobre uma menina que roubava rosas. Mas o conto em si não vale nada perto de tudo o que ele me despertou quando o (re)li. Memória é uma coisa engraçada mesmo...

11 A Legião Estrangeira: apesar de ter um começo confuso eu gostei desse conto. Tadinha da Ofélia, era uma mini adulta que perseguia a Lispector hahaha. Mais um conto com o tal "desabrochar", mas dessa vez foi diferente, o mundo da menina ruiu quando ela finalmente se deixou ser nada além de uma criança. Achei bem interessante.

12 Os Obedientes: cara da depressão esse conto. Fala sobre um casal que nunca fazia nada, e que foi pro saco quando começaram a se tocar que não faziam nada. TRISTE.

13 A Repartição dos Pães: achei esse conto MUITO bom. Mas acho que só porque eu imaginei ele em toda uma perspectiva macabra. Não exatamente bondosa e cristã, como o título sugere. Em resumo são pessoas que vão almoçar num sábado na casa de uma fulana e todos consideram como um compromisso chato, mas chegam lá e a mesa tá toda linda e a mulher toda querida e tal. Escrevendo isso agora me toquei que soa como ir à missa, que as pessoas vão de má vontade, mas Deus/Jesus tá lá pra elas, preparando um real banquete pois as ama e toda aquela história de sempre... mas pff não vou pensar nisso. Sem liçõezinhas cristãs pra cima de mim! ù_Ú

14 Uma Esperança: sabe quando você se toca que ter algumas informações a mais te ajuda a interpretar melhor a leitura e assim curti-la mais? Pois foi assim com esse conto. Descobri que esperança é um inseto verde, tipo um grilinho, da família do gafanhoto, e também que as pessoas acreditam que ele traz boa sorte. Com esse tantinho de informação eu já consegui entender mais o que lia e também gostar. Esperança é uma coisa boa e má ao mesmo tempo, só o que tenho a dizer.

15 Macacos: é porque ela morreu na década de 70 e esse conto foi escrito antes disso, pois a Sociedade Protetora dos Animais, e antes ainda o IBAMA, nunca permitiria a publicação desse conto. É um tal de comprar macaco na rua que dá até nervoso. Achei muito triste esse conto, não gosto de macacos, mas também não precisa judiar deles, poxa!

16 Os Desastres de Sofia: menina bagunceira, super criativa que curte provocar um professor. Não sei o que é ser assim... quer dizer, eu me perdia nos meus próprios pensamentos e tudo o mais, mas sempre fui tão queridinha dos professores. Enfim, outra coisa deprimente é esse 'amor pelo homem da Criação' que eu me perdi completamente. Achei meio bizarro esse conto e é, foi isso.

17 A Criada: alguém que tenha lido me diz, a criada era uma ninfa das florestas? Ela foi uma ninfa em alguma vida passada? Alguém me explica esse conto, porque né, eu não entendi nada.

18 A Mensagem: não gostei. Eu entendi esse (juro), mas não gostei. Menino e menina eram amigos ligados pela angústia. Aí a angústia "passa", eles não se precisam mais, digamos assim. Aí ele vira homem e ela mulher e por isso ele sente que precisa dela. Porque né, homem precisa de mulher. Sério Lispector? Podia fazer melhor que isso, hein!

19 Menino de Bico de Pena: se é realmente isso que um bebê pensa é a coisa mais deprimente ever. Diz Clarice que bebê só vira "humano" pra poder ser entendido e não ficar sozinho, e assim ele é devidamente "domesticado" e ensinado a ser pessoa. Achei TENSO. Além do mais, depois do conto anterior eu já tava meio que de saco cheio e só queria terminar logo o livro...

20 Uma História de Tanto Amor: ai que dó da menina que amava galinhas! Mas achei digna a história da mãe, de que quando nós comemos um animal ele passa a nos "pertencer". Triste, mas bonitinho.

21 As Águas do Mundo: li esse conto com tanta atenção que depois vieram comentar uma parte comigo e eu não fazia IDEIA do que a pessoa estava falando. Óbvio que passei os olhos de novo e vi a tal parte em que ela diz que a água do mar = porra. Desculpe o linguajar, mas gosto de "traduzir" pro vernáculo que eu uso e conheço. Melhor do que "líquido espesso do homem" que passou total batido na minha primeira leitura (feita dentro de um ônibus) e me fez passar vergonha. Enfim, de qualquer forma não entendi esse conto, se alguém quiser me explicar, fique a vontade.

22 A Quinta História: uma história com complementos diferentes que acabam formando "novas histórias". Adorei a ideia. Vou usar. Sim, é só que eu tenho a dizer sobre esse conto.

23 Encarnação Involuntária: pessoa claramente perturbada que não tem personalidade própria e fica tentando viver a vida dos outros. Um ótimo título para esse conto aleatório e esquisito.

24 Duas Histórias a Meu Modo: não entendi NADA. Ela usa duas histórias escritas por um francês qualquer e fica divagando sobre isso. E realmente é só isso e mais nada.

25 O Primeiro Beijo: Claro, porque estar morrendo de sede numa viagem do colégio, parar num chafariz e beber água que sai da boca de uma estátua é MUITO igual ao primeiro beijo. E sim, essa experiência realmente muda sua vida e te transforma em homem. CHATO, é o que eu tenho pra dizer.

Vou falar a verdade, não sei se gostei ou não. Sei que me deixou confusa. atordoada e me fez sentir coisas contraditórias. Sei que senti um ar de poesia escrito em forma de prosa, e já deixei BEM claro o que poesia me faz sentir - nada porque eu não entendo essa joça!
Maaaaaaas, sempre bom conhecer coisas novas, ainda acho que essa lista do vestibular está me trazendo coisas boas.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lucíola - José de Alencar


Uma vez frequentado uma escola e tendo o mínimo que fosse de instrução já seria o suficiente para saber que José de Alencar está entre os maiores escritores da nação. Eu apenas não tinha noção (em toda minha ignorância) do quão mestre ele realmente havia sido até me deparar com esta obra fascinante, um de seus chamados "romances urbanos".
Lucíola já começa a impressionar por sua forma de narrativa, que se dá por meio de uma carta enviada pelo personagem principal a uma certa fulana, narrando todo o desenrolar da trama em ordem cronológica, expressando seus sentimentos e impressões acerca de cada acontecimento.
Vou dizer que essa obra tocou meu coração tanto por sua complexidade e genialidade quanto pela trama. Sim, eu me sensibilizei pela história da cortesã Lúcia, entendi seu drama e até chorei por ela.
Resumindo a obra só para não correr o risco de estragá-la (pois merece muito ser lida) - as mulheres "de vida fácil" também amam, e intensamente, diga-se de passagem! E toda mulher, por maiores vulgaridades que possa ter feito, é capaz de ter pureza, inocência e castidade (teminhas recorrentes das últimas obras, hein) em seu coração e alma, mesmo que o corpo... bem, acho que deu pra entender.
Amei! Quero muito que essa tortura de vestibular passe para poder ter o prazer de apreciar outras obras desse gênio da literatura. Agora meu querido "Machadão" vai ter de aprender a dividir o espaço do meu coração reservado ao brilhantes escritores brasileiros, antes ocupado por ele em sua totalidade.

Inocência - Visconde de Taunay


Nessa edição que eu li, há um pouco da história do autor, bem como um belo de um resumo da obra, o que foi excelente para mais uma das minhas leituras de vestibular. No tal resumo falava que a obra se apresentava de difícil compreensão, em razão do emprego de gírias sertanejas, caracterizando-se assim um belo exemplar de romance regionalista.
Sinceramente, o que mais me irritou durante a leitura foi (novamente) a detalhada descrição da paisagem. As tais "gírias" eram mesmo muito engraçadas, tendo como exemplo "aninceto", que para nós seria simplesmente "inseto".
Óbvio que uma obra escrita em 1872 possui uma linguagem arcaica muitas vezes de difícil compreensão, mas nesse caso a história é tão simples que consegue tornar a leitura rápida e agradável.
Enredo: Cirino se apaixona perdidamente por Inocência (que o corresponde posteriormente), mas não podem ficar juntos pois ela já é noiva de Manecão. Culmina em final trágico, obviamente. Juro que TODO o resto é só pra história ter mais volume, drama, emoção e os próprios personagens não sacarem o final até ele chegar. Mas é esse "todo o resto" a parte mais divertida da narrativa, onde se encontram as demais personagens, como o Pereira (pai de Inocência) e o Dr. Meyer (o alemão atrapalhado).
Como havia de ser uma obra romântica que se preze, a heroína é moça pura e, principalmente, imaculada. A castidade é posta como ápice da beleza e, é claro, inocência desse amor sublime vivido pelos protagonistas.
Minha personagem preferida é o tal Dr. Meyer, o alemão especialista em "anincetos" que estava rodando o Brasil atrás de espécies raras para apresentar para a Sociedade Geral Entomológica de sua terra natal. Tá, vou falar a verdade: essa personagem me divertiu principalmente por sempre me fazer recordar da musiquinha nada "casta e inocente" da infância "Nabuco foi no mato caçar borboleta e...." SENSACIONAL!
Vale também dizer que me emocionei com o desfecho da trama (mesmo sendo totalmente previsível), chegando a QUASE lacrimejar. Além disso, o fato do pesquisador de insetos ter descoberto uma nova borboleta e a ter batizado de "Papilio Innocentia" é, apesar de pedante, um belo final.
Definindo o livro em duas palavras, fico com engraçadinho e bonitinho. Quando guardado na prateleira deve ficar ao lado de um quase "primo", outro clássico do romantismo nacional, "A Moreninha" de Joaquim Manoel de Macedo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Bom-Crioulo - Adolfo Caminha


Mais um livro que só o vestibular me permitiu chegar perto! Obra naturalista escrita em 1895 e que sambou na cara da sociedade da época, abordando o homossexualismo como tema central e, indo além, tendo um negro como personagem principal.

A leitura é um pouco chatinha e difícil porque foi escrita em um português do século XIX, mas é só ignorar as infinitas descrições da paisagem e principalmente o vocabulário marítimo que tudo fica lindo. Acontece que o Sr. Caminha foi da Marinha durante um bom tempo antes de virar, como que do dia pra noite, escritor. Aí ele achou que ia ser legal se os personagens principais fossem marinheiros.

A história se passa assim, Amaro (conhecido pela alcunha de Bom-Crioulo), um negro forte, sexy delicia (tem quinhentas descrições ao longo da obra sobre o corpo do boy magia) e excelente marinheiro, tava indo muitíssimo bem, obrigado, na vida a sete léguas. O mais obediente, prestativo e já experiente marinheiro, até a chegada dum loirinho de olhos azuis – Aleixo – à tripulação. Amaro fica total ‘in love’ pelo jovem padawan Aleixo, de meros 15 anos, e resolve ser um bom macho e cortejar o mancebinho.

Aleixo era um molequinho bobo e vaidoso, e gostou das atenções e proteções dadas por Amaro, aí meio que se deixou levar e assim começa o “romance” dos dois. Então, o coitado do Bom-Crioulo todo bobo resolve descolar um quartinho em terra pros dois viverem de paixões quando estivessem de folga, e vai numa pensão de uma velha amiga, uma tal de Dona Carolina, uma ex-prostituta (sei lá se isso existe) portuguesa.

É interessante que essa Carolina é pra ser daquelas mulheres mais velhas que nos anos 80/90 chamavam de “idade da loba”, quando a mulher era muito da experiente e pegava geral. Gosto do jeito que eles chamam no seriado How I Met You Mother – cougar (descobri recentemente que este é um termo recorrente em filmes para adultos).

Em todo caso, Bom-Crioulo acaba sendo mandado pra outro navio, diferente do de Aleixo e por isso as folgas não coincidem, o que dá a oportunidade de Aleixo conhecer melhor a lusitana safadinha. Sei que rola um amor típico de filme adolescente americano, em que o menino mais bobão acaba pegando a mãe de um amigo e vive momentos intensos de paixão (vide American Pie para maiores esclarecimentos).

Nisso, Bom-Crioulo surta, briga feio na rua e fica internado num hospital depois de ter levado uma bela duma surra a mando do comandante do navio em resposta a seu comportamento nada exemplar. No hospital Amaro pira de vez, até resolver fugir e ir ao encontro de Aleixo, o que culmina em um trágico final – o homicídio de Aleixo pelas mãos de Bom-Crioulo.

História TENSA! Apesar da linguagem bizarra do século XIX eu gostei muito da leitura, que foi bastante rápida já que o livro é bem curtinho. Quem tiver paciência pra decifrar as expressões deve ler a obra, recomendadíssimo!

Anjo Negro - Nelson Rodrigues


Confesso que nunca havia lido uma obra sequer do referido autor, mas já tinha os maiores preconceitos do mundo contra seus polêmicos temas e sua forma de abordá-los. Estava agindo como uma criança que diz odiar um vegetal que nunca antes experimentou, mas veja bem, eu tenho uma boa desculpa! Acredito que a minha educação cristã ainda não saiu totalmente da minha cabeça e me torna por demais bitolada para muitos assuntos ainda, mas é algo que estou solucionando aos poucos, juntamente como lento diagnóstico da própria patologia.

Mas, voltando à obra, deixei meu preconceito de lado em razão de um objetivo maior – prestar novamente o vestibular, depois de todos esses anos (meu 1º foi em 2005). E posso afirmar que valeu a pena!

Anjo Negro é uma obra teatral, escrita por Nelson Rodrigues em 1946, sendo tão chocante e polêmica que só pode estrear em 1948, em razão da censura da época. O “roteiro” de peça é bastante breve, sendo lido (ou devorado) rapidamente, ainda mais por ter como trama uma verdadeira insanidade, misturando os temas racismo, estupro e incesto.

*ATENÇÃO, A PARTIR DESTE PONTO PODE HAVER SPOILERS DA HISTÓRIA

A peça gira em torno de um casal, Ismael (negro) e Virgínia (branca), cujos filhos sempre acabam mortos ainda muito pequenos. Ao longo da leitura você vai descobrindo que Virgínia só se casou com Ismael por obra da tia com quem morava, pois supostamente ela havia seduzido o noivo de uma de suas primas, levando esta última ao suicídio. Sendo assim, a tia se vingou da tão bela Virgínia, mandando que Ismael estuprasse Virginia.

Ismael se apresenta como um sujeito que tem vergonha, ou até mesmo verdadeiro pavor, de sua ascendência, julgando que ser negro é ser inferior, e que os brancos é que são educados. Todo esse drama da personagem foi inserido na história para retratar o pensamento preconceituoso daquela época. Virgínia sente repulsa e atração pelo marido na mesma medida, e ambos em razão da cor da pele de Ismael.

Logo no início da narrativa as personagens são surpreendidas pelo aparecimento de Elias, o irmão branco e cego de Ismael, com quem Virginia se envolve e acaba grávida. Ismael descobre o ocorrido, mata o irmão e ao mesmo tempo Virginia assume que era ela quem matava os próprios filhos, por nascerem todos negros como o pai.

A reviravolta se dá quando nasce o filho de Virginia com Elias, uma menina branca que Ismael trata de logo cegar pois vê nessa menina a oportunidade de ser realmente amado fazendo se passar por branco (aproveitando-se da cegueira da menina). Nesse ponto se percebe o quanto Ismael acredita que ser branco é ser superior. A coisa toda dá certo, uma vez que Ana Maria é loucamente apaixonada pelo negro que se diz seu verdadeiro pai, e odeia Virginia sua mãe.

O final não precisa ser estragado, só vale dizer que a alusão feita à Branca de Neve, é a melhor parte de todas. A história é meio macabra, cheia de mortes, vinganças, inveja e ciúmes. A parte do incesto é nefasta demais para ser descrita, mas acho que as obras que te fazem sentir algo, mesmo que repulsa, são obras bem escritas. Em resumo: leitura extremamente recomendada, até porque não leva mais que 2 horas (lendo bem lentamente) para fazê-la