quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Feliz Ano Novo - Rubem Fonseca


Acho que 2011 foi o "ano dos livros de contos" na minha vida, não me lembro de antes ter lido tão seguidamente tantos exemplares dessa espécie! Esse, em especial, estava aguardando desde o comecinho do ano (lá por abril) para ser lido. Confesso que eu tinha um certo preconceito contra o mesmo, parecido com o meu sentimento em relação a Nelson Rodrigues, provavelmente por conta da famosa "pornografia" como tema. Sim, eu tinha um grande e burro preconceito contra essa temática e "Feliz Ano Novo" é sem sombra de dúvidas um excelente material para fazer qualquer um superar esse preconceito (ou desistir de vez de tentar apreciar).
Como de costume, lá vou eu conto a conto:

01. Feliz ano novo: conta a história de 03 pelegos que resolvem assaltar alguma casa na noite de ano novo. É bem escrito, pesado, sujo e sobre a escória da sociedade. Achei legalzinho.

02. Corações solitários: o livro me foi emprestado justamente por esse conto, tanto que eu cheguei a lê-lo e depois encostei o livro de novo por mais alguns meses. A história é contada por um jornalista que sai das notícias policiais para fazer parte de uma encadernação destinada às mulheres da classe C. O final é bastante surpreendente. Mas de novo: achei legalzinho.

03. Abril, no Rio, em 1970: um fulano quer ser visto por um olheiro de futebol para poder ir para um bom time. Achei chatinho, mas esse conto diz muito sobre a pessoa que me emprestou o bendito livro. P.S.: obrigada babe!

04. Botando pra quebrar: foi aí que eu comecei a gostar do livro. História de um zé ninguém que não quer mais viver as custas da mulher e arranja um emprego de leão de chácara, ironicamente no mesmo dia que ela pede a ele que a deixe encontrar um homem bom e decente para ela. A parte do drama é boa e realmente triste, mas o legal é o final do conto.

05. Passeio noturno (Parte I): um pai de família aparentemente normal tem uma espécie de "hobby" bastante único, que o ajuda a liberar as frustrações.

06. Passeio noturno (Parte II): é nesse conto que o tal hobby consegue ficar ainda mais assustador. Genial esse conto, amei amei amei amei (aqui você já consegue perceber o quanto eu estava empolgada com o livro).

07. Dia dos namorados: o famoso personagem Mandrake aparece nesse conto (excelente, diga-se de passagem). Uma história maluca sobre um ricaço que resolve levar uma garota de programa pra um motel e tudo que podia efetivamente dá errado. Aí o Mandrake surge pra resolver o rolo todo.

08. O outro: esse eu achei muito triste. Um cara rico que trabalhava demais e todo dia era abordado por um coitado na rua, até ele se irritar com o coitado...

09. Agruras de um jovem escritor: que conto mais maravilhoso! Um escritor que mora com uma suposta fã e a trata como lixo, ao final percebe que não era ninguém. Não quero detalhar mais, acabaria com toda a graça.

10. O pedido: outro conto bastante triste. E aqui eu notei um elemento que é recorrente na escrita de Rubem Fonseca - personagens de origem lusitana. Um velhinho precisa pedir ajuda para seu patrício, mas os dois estão brigados há anos (e ele nem mesmo lembra o motivo). Incrível como certas bobagens, em especial o orgulho, acabam com a vida das pessoas.

11. O campeonato: é nesse conto que a tal pornografia é abordada de um jeito tão inusitado que você consegue perceber que não há nada demais nela. É um conto genial, sobre um campeonato de conjunção carnal. Certos elementos te fazem notar que o conto não se passa no presente e sim num futuro estranho, que é o que o autor acredita que vai acontecer com a humanidade. Muito bom mesmo.

12. Nau Catrineta: meu conto preferido. Um jovem está completando 21 anos e é seu destino completar uma missão, passada por gerações em sua família. Outro elemento que eu já havia percebido: o autor é extremamente culto, em especial quando o assunto é literatura, e deixa isso bem claro ao longo de todo o livro! A atmosfera de mistério e profecia são muito bem colocadas e se apresentam de forma ao mesmo tempo sútil e evidente (não me pergunte como, só leia).

13. Entrevista: o conto inteiro é uma conversa entre um homem e uma mulher, mas ninguém te diz isso. Simplesmente são duas iniciais diferentes "M" e "H", e você só pode ter certeza de que "M" é mulher pelo contexto, mas não que necessariamente esse "M" seja pela primeira inicial de "mulher". E a complexidade dele é tamanha que me deixou meio tonta ao final, não sei se realmente é pra entender o que eu entendi ou se eu viajei bonito, mas o "meu final" é bem sinistro.

14. 74 Degraus: nunca tinha visto essa estrutura - apenas pensamentos das personagens. Fica bem confuso em alguns momentos, onde é difícil distinguir quem está pensando o que, mas é realmente genial. Um jeito único de narrar uma história, como se usasse da visão de cada personagem sobre um mesmo fato, vivido exatamente no mesmo momento. A história em si não é tão boa, se bem que adorei o triunfo das personagens femininas, mas enfim, o que realmente marca é a estrutura.

15. Intestino Grosso: o melhor fechamento de livro de contos que eu já vi em toda a minha vida (e que certamente vou ver, porque, pra ganhar desse tem que ser muito bom mesmo). Esse conto é como se alguém fosse entrevistar um certo escritor que por acaso é exatamente IGUAL ao Rubem Fonseca. Explica muita coisa, inclusive o livro todo passa a fazer muito mais sentido e deixa de ser uma série de contos desconexos para se mostrar um grande projeto, único, que segue uma mesma linha de raciocínio. Adorei muitas das ideias do autor, mas nada se compara a explicação a respeito da temática "pornografia". Excelente final.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adams


Quando li esse livro pela primeira vez eu tinha 16 anos e fiquei fascinada com todo o sarcasmo e genialidade das inúmeras piadas ao longo da narrativa. O que eu não havia me dado conta era que é apenas isso o livro, apenas uma bela piada! Uma grande satirização da humanidade e todas as suas crenças e costumes.
Douglas Adams foi um verdadeiro gênio, e sua ideia mais brilhante foi criar essa saga em que um humano sobrevive à destruição do Planeta Terra e sai pela Galáxia com alienígenas (e uma outra humana) em uma aventura épica.
Alguns elementos são extremamente característicos e divertidíssimos:
Primeiro de tudo - NÃO ENTRE EM PÂNICO;
Ford Prefect - o alien que mora (fica preso) na Terra por 15 anos e não entende sarcasmo ou ironia;
Marvin - o robô depressivo mais chato e irritante de todo o Universo;
A Resposta da Questão Fundamental ser 42 e a questão em si ser totalmente desconhecida;
Os humanos serem apenas os terceiros seres mais inteligentes que habitavam a Terra.

Além de outras zilhões de piadas ótimas e extremamente bem elaboradas!
Preciso urgentemente (re)ler o título seguinte "O Restaurante no Fim do Universo", é uma saga SENSACIONAL e você fica desesperado para entender a história inteira. Infelizmente a qualidade das piadas vai decaindo a cada título, mas vou dar mais uma chance, talvez tenha sido apenas uma má primeira impressão!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Contos de Fadas - Apresentação de Ana Maria Machado


Sempre ouvi dizer que aquelas lindas histórias de contos de fadas eram bem diferentes em sua versão original, muito distantes das versões "Disney" que nós estamos habituados. Quando eu era pequena meu pai lia esses contos originais para mim e meu irmão, e eu me fascinava com o tom levemente (ou puramente) macabro da maioria.
Esse livro é um verdadeiro achado! Ana Maria Machado reuniu grandes clássicos em versões que, segundo ela, se aproximam mais das supostas originais. Nada de finais felizes aqui, ou pelo menos não na massiva maioria dos contos.
Algumas histórias me chamaram mais atenção: Chapeuzinho Vermelho, Barba Azul, Branca de Neve e a Pequena Sereia. Vou explicar um pouquinho o porquê:

Chapeuzinho Vermelho: fica ainda mais claro na versão de Perrault que este velho conto servia para assustar moçoilas inocentes de forma a tomarem cuidado com os "lobos" que vivem pela "estrada a fora". Ou seja: mocinhas virgens, não se deixem enganar! Esses canalhas só querem deflorar vocês e nada além disso! Detalhe: nessa versão não existe caçador/lenhador algum e a Chapeuzinho vai pro saco mesmo. Na sequência, Ana Maria incluí a versão dos irmãos Grimm que se mostra mais leve e faz Chapeuzinho e sua vovó triunfarem, cheguei a ficar com dó do lobo!

Barba Azul: quer assustar seus filhos antes de dormir? Fácil! Só ler essa historinha macabra para os pequerruchos. Degolar é um verbo interessante e resume a história. Maaaaaas, achei um absurdo! Fazem o coitado do Barba Azul de vilão e na real ele só não curtia que mexessem nas coisas dele e que o desobedecessem! Achei a moral desse conto TODA ERRADA!

Branca de Neve: Necrofilia define. Sim, pois a bonitinha cai morta, dura, ressecada, aí os anões (pedófilos porque a laza tinha 07 anos) entravam a desgraçada num caixote de vidro (diamantes, sei) e eis que surge um necrófilo podre de rico (conhecido como "príncipe encantado") que vê o presunto e fica louco. Fala que paga o preço que for pros anões pra levar a de cujus pro castelo dele. Agora veja essas informações e me diz se isso não é necrofilia.

A Pequena Sereia: quase chorei. Não tem final feliz, é triste em demasia. Você fica lá o conto inteiro (que é o maior do livro) torcendo pela meio-pirigueti meio-tainha e no final: pfff, ela vira AR. E tudo pra que? Pra ensinar as crianças que elas devem ser boas, pois quando são elas ajudam as aves a conquistar uma alma imortal, oi? É o mesmo conto? SIM, É! Acredite, fiquei perdida quando chegou no final - Hans Christian Andersen, espero que você esteja apodrecendo no inferno!

Apesar de só ter zombado dos contos, eu realmente AMEI esse livro! Me vejo lendo pros meus filhos, em especial o Barba Azul! Foi um dos melhores presentes que já ganhei em toda minha vida, em especial pela linda dedicatória escrita na contra capa. O objetivo foi alcaçado: me fez sorrir, e muito.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

S. Bernardo - Graciliano Ramos


Levei um tempo exagerado para finalizar essa leitura, mas não foi culpa da obra e sim da minha preguiça. É um bom livro, muitíssimo bem estruturado e cheio de simbologias.
Trata-se da história de Paulo Honório, narrada pelo mesmo como forma de entender os acontecimentos passados. A linguagem marcante do livro é a oralidade, através da qual a personagem principal consegue se expressar, uma vez que se trata de pessoa simples de pouco estudo.
A trama mistura muito presente com passado e realidade com ilusão, tentando mostrar todo o drama vivido (ou imaginado) por Paulo Honório.
Apesar de não ser uma grande fã dessas narrativas "sertanejas", como "Vidas Secas" outro título do mesmo autor, gostei bastante da obra. Mas provavelmente por que esse teve um grande diferencial: não se fixou muito em contar a respeito da pobreza do sertão, apenas a realidade política da década de 30. Achei deveras interessante.
E chegou ao fim o martírio dos livros do vestibular. Tá, mentira, faltou um. Não vou ler e pronto.

:)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles


Êêêê listinha infinita do vestibular!
Cecília Meireles = POESIA. O que eu penso disso? Quem teve a coragem pra ler um único post meu já sabe que eu não tenho cultura suficiente pra gostar de poesia, então pense na tortura!
Mas, apesar da cara retorcida que fiz ao iniciar a leitura, tenho que dar um crédito pra Meireles e dizer que quase cheguei ao ponto de curtir o livro. Não que eu tenha entendido TUDO, mas consegui inclusive utilizar algumas estrofes para um futuro projeto.
O livro é um apanhado de poeminhas, que a autora chama de "romances", chegando assim ao título do maldito livro. O cenário é a cidade de Vila Rica bem na época da Inconfidência Mineira (1789), e a trama gira em torno de trocentos personagens e suas vidas, dramas, e envolvimento no episódio. Não tem muito mais pra dizer, porque é só isso mesmo, mas me custou MUITO tempo pra ler. Em parte preguiça por conta da forma de narrativa e em parte porque estou bem sem tempo mesmo.
Adorei um certo "romance" chamado DO JOGO DE CARTAS. Quem me conhece sabe a fixação que tenho por baralho e naipes, então tudo passa a fazer sentido.
Fora isso, realmente gostei muito de certos trechos, sobre vida, morte, traição e dor, que pretendo fazer uso mais tarde.
Espero que os outros 2 títulos sejam mais agradáveis para meu gosto literário...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Urupês - Monteiro Lobato


Eu estava apreensiva quanto a este livro. Achava que ia ser chato, difícil e conteria provas contundentes para tornar o boato de que Lobato era racista real. Eu estava completamente enganada. Urupês é um livro de contos escrito em 1918 que virou uma espécie de "best seller" da época. Com esse livro pude perceber duas grandes preocupações de Lobato: ambientais e políticas. Seus trabalhos são grandes críticas ao descaso com o meio ambiente e ao cidadão brasileiro que não se preocupa com nada. Genial!
Como de costume, vou fazer um "conto a conto".

01 Os Faroleiros: começando muito bem o livro com um conto ligeiramente macabro, sobre vingança e loucura. Ambientado em um farol, coisa que desperta muito meu interesse, achei um excelente conto.

02 O Engraçado Arrependido: esse daria um ótimo curta. Conta a história de um sujeito que era hilário, e que no começo acha isso um trunfo, mas tudo cai por terra quando percebe que absolutamente ninguém consegue o levar a sério. Nem mesmo ao final... ironicamente triste.

03 A Colcha de Retalhos: chorei (não que seja novidade) com esse conto. Uma senhora fofa faz uma colcha com todos os trapinhos de tecido que foram usados para vestir sua netinha, com o objetivo de lhe servir de enxoval. Acaba que todas as pessoas importantes se vão, incluindo a neta, que larga a senhorinha assim, sem mais nem menos. Muitíssimo triste.

04 A Vingança da Peroba: para mim esse conto diz duas coisas importantes. A primeira é que nada que for feito sob o sentimento da inveja e da vingança vai pra frente. A segunda é que deve-se sempre respeitar a natureza, ou ela vai se voltar contra você rapidinho. Final macabro sensacional.

05 Um Suplício Moderno: exploração dos "pacatos cidadãos". A tortura causada pelo trabalho quase que escravo. Interessantíssima a representação desse assunto através desse conto.

06 Meu Conto de Maupassant: alusão ao contista francês Guy de Maupassant, que tinha predileção pelas tramas psicológicas. Um sujeito narra a outro um caso de pura tormenta psicológica em que um italiano é acusado de um crime que não cometeu, mas que mesmo assim isso o tortura de forma tão vil que o leva ao suicídio. Sem explicações, apenas isso.

07 "Police Verso": não gostei desse conto. O "mal" triunfa. Narra a história de um menino maligno que torturava animais e se torna médico por conta da grana. Aí ele engana um pobre doente, faz ele morrer pra receber mais do que se o tratasse e vai morar em Paris. E o pai é um iludido que acha que ele é um grande médico e que estava na França estudando, ao passo que o desgraçado vai lá ficar com uma cortesã! Me indignei.

08 Bucólica: o nome diz tudo. Aquela paisagem rural, sossego, flores e coisas assim. Porém, a história é deveras depressiva. Mãe ruim deixa filha aleijada morrer de sede. Horrenda.

09 O Mata-Pau: história TENSA! A explicação é simples, mata-pau é uma espécie de parasita que só faz sugar uma determinada árvore até secá-la de vez. Acontece que um casal encontra um bebê e o adota, mas o menino se mostra um verdadeiro aproveitador. Acaba com a vida dos dois e vai embora.

10 Bocatorta: não entendi direito qual o intuito desse conto, mas fiquei com muita pena da aberração de alcunha Bocatorta. Ele era só deformado e por isso tratado como monstro, achei horrível.

11 O Comprador de Fazendas: muito bom! Um cara malandrex engana uns matutos fingindo que vai comprar sua fazenda e nunca mais volta. Passa um tempo ele ganha na loteria, resolve que realmente quer comprar a tal fazenda e vai até lá. Os fazendeiros, revoltados, expulsam o cara a ponta pés e todos saem perdendo. Maluquice pura!

12 O Estigma: mais um continho macabro. Um crime que ao final é denunciado por um recém nascido e sua marquinha de nascença. Bizarro e triste.

13 Velha Praga: o mal do século tem um nome: caboclo. Aqui ele faz uma crítica, dizendo sobre os desmatamentos, e que toda a destruição da natureza é ignorada pelos homens. Que as pessoas tratam genocídios como grandes calamidades, mas queimadas nada significam. Achei bem interessante. Os eco-chatos iriam amar.

14 Urupês: aqui Monteiro Lobato descasca o chamado caboclo, e o personifica em Jeca Tatu. Fala sobre a "lei do menor esforço" e do orgulho que os brasileiros sentem em ser descendentes desse tipo de ser. Muito bem escrito, e com uma excelente crítica à nossa sociedade, que apesar de mudança de século não mudou em absolutamente nada!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Felicidade Clandestina - Clarice Lispector


E a saga da listinha da UFPR continua. Correndo o risco de sofrer bullying literário e nunca mais ser respeitada por ninguém (como se ainda tivesse algum respeito a perder), essa foi a obra 'indicada' mais difícil de ler até o presente momento! Por se tratar de um livro de contos prefiro usar aquela tática de ir conto a conto para expressar melhor o que essa leitura me trouxe. E antes de mais nada, eu NUNCA havia lido Lispector (ou achava isso). Sem contar é claro as 20475625465214511 zilhões de citações escritas em tweets. Não sei quem foi o sábio que disse que deveriam fazer um Twitter com uma ferramenta própria para reclamar do clima e outra para citar Clarice Lispector. Mas enfim, vamos aos contos.

01 Felicidade Clandestina: conto que dá nome ao livro (OH REALY?), e um dos poucos que eu realmente gostei. Pra dizer bem da verdade eu me assustei quando fui percorrendo as linhas por um motivo bastante inusitado. A primeira vez que mostrei algo escrito por mim ao meu namorado ele logo perguntou se eu gostava de Lispector. Eu ri e respondi que nunca havia lido, e ele falou que havia uma certa semelhança na escrita. Nesse conto eu devo concordar. E descobri inclusive qual a semelhança, essa necessidade de escrever de forma a mostrar o sentimento do personagem/narrador e "meio que" escrever como se fala/pensa. Maaaas, voltando ao conto adorei a felicidade da menina proporcionada por um livro.

02 Uma Amizade Sincera: tá, aqui a coisa já começou a ficar um pouquinho estranha pra mim. Primeira crítica, só eu que acho que Lispector não consegue criar personagens homens? Eles ficam ora afeminados ora totalmente robóticos ou mesmo falsos. Mas enfim, história triste sobre amizade, em parte retrata um sentimento real, de desconforto que algumas amizades acabam nos trazendo, mas não acredito que isso possa acontecer numa amizade como a narrada no conto.

03 Miopia Progressiva: pronto, depois desse conto eu já tava criando um pequeno ódio pela autora. Me perdi muito nas ideias contidas aqui. Foi quando me toquei que o problema, a meu ver, é que ela só joga as ideias no papel, um turbilhão de ideias/pensamentos/falas/situações, assim sem ordem específica. Não que seja ruim, só é estranho... E outra, juro que tentei entender esse lance da metáfora da miopia que realmente o faz enxergar com qualquer coisa em nossas vidas, mas acho que sou burra ou sem criatividade DEMAIS pra isso, sorry. Mas todos os possíveis pensamentos que passam na cabeça de um menino acerca das coisas que são faladas pra ele, a fantasia que ele faz das situações e a preocupação com os acontecimentos e suas consequências são muito verídicas. Achei encantador.

04 Restos do Carnaval: apesar de eu achar totalmente bizarro esses contos sobre a infância, onde ela faz uma criança de 08 anos pensar como um adulto (sem nexo, beijos), eu achei esse conto bem gacioso. Mas depois eu ia descobrir que 75% dos contos dela são sobre o "desabrochar" (tanto de meninos quanto meninas, TODOS se descobrem finalmente mulheres ou homens).

05 O Grande Passeio: um dos meus preferidos. Chorei litros. Adoro pessoas idosas, e essa velhinha tocou meu coração. Como e porque ninguém entende que vai ficar velho? E como ninguém entende que uma pessoa "velha" já foi jovem e viveu tudo e mais um pouco do que os outros que se julgam assim tão jovens? Achei lindo e extremamente triste esse conto.

06 Come, Meu Filho: tá Clarice, já entendi o que você faz. ABSOLUTAMENTE tudo que essa mulher escrevia era a partir de seu cotidiano. Foi nesse conto que a ficha caiu. Ela só escrevia sobre o que ela via/fazia/conhecia. Realmente o que ela faz são retratos do cotidiano de forma "especial". Acho bem válido, faz enxergar as coisas mais banais com outros olhos. Devaneios feitos a partir de perguntas de criança deveria ser o título alternativo desse conto.

07 Perdoando Deus: tudo é lindo, sou linda, sou amor, sou divina, opa! Um rato morto no meio do caminho. Poxa Deus, não me sacaneia cara! Essa é a minha versão desse maldito conto que dá voltas e mais voltas pra falar que não se pode brincar de Deus e nem ficar de cara com ele, TUDO tem sua razão de ser no plano do divino ZZzzZZzzzZZzzz

08 Tentação: ah, esse é bonitinho. Um conto de uma vida e um drama inteiro que deve ter sido vivido em algo em torno de 6min. Uma menina que é sozinha no mundo, e encontra um cachorro que deveria ser seu, mas não pode ser. E é isso. HAHAHAHAHAHA.

09 O Ovo e a Galinha: esse foi o conto que me levou uns 3/4 dias pra ler. Sim, um único conto teve a habilidade de me fazer odiá-lo ao ponto de levar mais tempo para lê-lo do que um livro inteiro (como Anjo Negro). Não estou falando que é ruim, ou mal escrito, de forma alguma. Mas é muito intenso, são ideias DEMAIS jogadas em sequência, difícil absorver tudo. Preciso ter paciência e ler mais umas 3x pra começar a fazer sentido. Com esse conto eu cheguei a uma conclusão. Eu vivo pensando coisas aleatórias, que levam a outros pensamentos e outros e por aí vai. Brainstorm seria a palavra mais adequada. Acontece que eu sempre quis descobrir um meio de passar TODOS esses pensamentos com ou sem nexo prum papel, exatamente da forma como eles surgiram na minha cabeça. Acho que Clarice descobriu como fazer isso, pois esse conto retrata bem um Brainstorm (esse e os outros...).

10 Cem Anos de Perdão: quando eu falei que nunca havia lido Clarice (tirando as citações) eu estava falando a verdade, ou pelo menos o que eu acreditava ser verdade. Foi ler a primeira linha desse conto que eu me lembrei. Lembrei de muita coisa, lembrei até de como eu me sentia quando li esse conto pela primeira vez. Me lembrei da minha professora, dos meus colegas, da minha vida naquela época. É um conto bonito, sobre uma menina que roubava rosas. Mas o conto em si não vale nada perto de tudo o que ele me despertou quando o (re)li. Memória é uma coisa engraçada mesmo...

11 A Legião Estrangeira: apesar de ter um começo confuso eu gostei desse conto. Tadinha da Ofélia, era uma mini adulta que perseguia a Lispector hahaha. Mais um conto com o tal "desabrochar", mas dessa vez foi diferente, o mundo da menina ruiu quando ela finalmente se deixou ser nada além de uma criança. Achei bem interessante.

12 Os Obedientes: cara da depressão esse conto. Fala sobre um casal que nunca fazia nada, e que foi pro saco quando começaram a se tocar que não faziam nada. TRISTE.

13 A Repartição dos Pães: achei esse conto MUITO bom. Mas acho que só porque eu imaginei ele em toda uma perspectiva macabra. Não exatamente bondosa e cristã, como o título sugere. Em resumo são pessoas que vão almoçar num sábado na casa de uma fulana e todos consideram como um compromisso chato, mas chegam lá e a mesa tá toda linda e a mulher toda querida e tal. Escrevendo isso agora me toquei que soa como ir à missa, que as pessoas vão de má vontade, mas Deus/Jesus tá lá pra elas, preparando um real banquete pois as ama e toda aquela história de sempre... mas pff não vou pensar nisso. Sem liçõezinhas cristãs pra cima de mim! ù_Ú

14 Uma Esperança: sabe quando você se toca que ter algumas informações a mais te ajuda a interpretar melhor a leitura e assim curti-la mais? Pois foi assim com esse conto. Descobri que esperança é um inseto verde, tipo um grilinho, da família do gafanhoto, e também que as pessoas acreditam que ele traz boa sorte. Com esse tantinho de informação eu já consegui entender mais o que lia e também gostar. Esperança é uma coisa boa e má ao mesmo tempo, só o que tenho a dizer.

15 Macacos: é porque ela morreu na década de 70 e esse conto foi escrito antes disso, pois a Sociedade Protetora dos Animais, e antes ainda o IBAMA, nunca permitiria a publicação desse conto. É um tal de comprar macaco na rua que dá até nervoso. Achei muito triste esse conto, não gosto de macacos, mas também não precisa judiar deles, poxa!

16 Os Desastres de Sofia: menina bagunceira, super criativa que curte provocar um professor. Não sei o que é ser assim... quer dizer, eu me perdia nos meus próprios pensamentos e tudo o mais, mas sempre fui tão queridinha dos professores. Enfim, outra coisa deprimente é esse 'amor pelo homem da Criação' que eu me perdi completamente. Achei meio bizarro esse conto e é, foi isso.

17 A Criada: alguém que tenha lido me diz, a criada era uma ninfa das florestas? Ela foi uma ninfa em alguma vida passada? Alguém me explica esse conto, porque né, eu não entendi nada.

18 A Mensagem: não gostei. Eu entendi esse (juro), mas não gostei. Menino e menina eram amigos ligados pela angústia. Aí a angústia "passa", eles não se precisam mais, digamos assim. Aí ele vira homem e ela mulher e por isso ele sente que precisa dela. Porque né, homem precisa de mulher. Sério Lispector? Podia fazer melhor que isso, hein!

19 Menino de Bico de Pena: se é realmente isso que um bebê pensa é a coisa mais deprimente ever. Diz Clarice que bebê só vira "humano" pra poder ser entendido e não ficar sozinho, e assim ele é devidamente "domesticado" e ensinado a ser pessoa. Achei TENSO. Além do mais, depois do conto anterior eu já tava meio que de saco cheio e só queria terminar logo o livro...

20 Uma História de Tanto Amor: ai que dó da menina que amava galinhas! Mas achei digna a história da mãe, de que quando nós comemos um animal ele passa a nos "pertencer". Triste, mas bonitinho.

21 As Águas do Mundo: li esse conto com tanta atenção que depois vieram comentar uma parte comigo e eu não fazia IDEIA do que a pessoa estava falando. Óbvio que passei os olhos de novo e vi a tal parte em que ela diz que a água do mar = porra. Desculpe o linguajar, mas gosto de "traduzir" pro vernáculo que eu uso e conheço. Melhor do que "líquido espesso do homem" que passou total batido na minha primeira leitura (feita dentro de um ônibus) e me fez passar vergonha. Enfim, de qualquer forma não entendi esse conto, se alguém quiser me explicar, fique a vontade.

22 A Quinta História: uma história com complementos diferentes que acabam formando "novas histórias". Adorei a ideia. Vou usar. Sim, é só que eu tenho a dizer sobre esse conto.

23 Encarnação Involuntária: pessoa claramente perturbada que não tem personalidade própria e fica tentando viver a vida dos outros. Um ótimo título para esse conto aleatório e esquisito.

24 Duas Histórias a Meu Modo: não entendi NADA. Ela usa duas histórias escritas por um francês qualquer e fica divagando sobre isso. E realmente é só isso e mais nada.

25 O Primeiro Beijo: Claro, porque estar morrendo de sede numa viagem do colégio, parar num chafariz e beber água que sai da boca de uma estátua é MUITO igual ao primeiro beijo. E sim, essa experiência realmente muda sua vida e te transforma em homem. CHATO, é o que eu tenho pra dizer.

Vou falar a verdade, não sei se gostei ou não. Sei que me deixou confusa. atordoada e me fez sentir coisas contraditórias. Sei que senti um ar de poesia escrito em forma de prosa, e já deixei BEM claro o que poesia me faz sentir - nada porque eu não entendo essa joça!
Maaaaaaas, sempre bom conhecer coisas novas, ainda acho que essa lista do vestibular está me trazendo coisas boas.