segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fumaça e Espelhos - Neil Gaiman


Pra ser bem sincera, minha intenção inicial era ler Drácula de Bram Stoker, mas o sujeito que trabalha na Casa da Leitura da Praça da Espanha não fazia ideia do que eu estava falando. O jeito foi me propor a procurar sozinha algum título que me despertasse o interesse. Foi quando me deparei com o nome de um dos meus escritores preferidos (como já deixei BEM claro em posts anteriores) - Neil Gaiman.

Fumaça e Espelhos é outro livro de contos de Gaiman, anterior ao Coisas Frágeis e com um número maior de contos que o mesmo. Os contos de Fumaça e Espelhos foram escritos em épocas completamente diferentes, seguem estilos bastante distintos entre si e possuem temática variada. Demorei séculos para lê-lo, pois tive a brilhante ideia de pegá-lo durante a época de festas de fim de ano. Maaaaas, enfim terminei e fiquei absolutamente fascinada com a leitura. Vou fazer o mesmo esquema do outro livro: ir conto por conto.

Lendo as Entranhas: Um Rondel: Gaiman abre o livro com esse poema, sobre o futuro/destino e coloca nele um prefácio que consiste em um trecho do livroAlice no País dos Espelhos de Lewis Carrol. Só tenho a dizer que a escolha do prefácio mostra muito mais do que eu gosto em Gaiman do que o poema em si. Não sou fã de poemas.

O Presente de Casamento: segundo Gaiman a idéia desse surgiu quando amigos seus iriam se casar e ele achou que seria legal lhes dar um conto de presente de casamento. Lógico que depois de pensar melhor ele concluiu que uma torradeira seria muito mais útil. Guardou a idéia para vendê-la, e eu sinceramente acho que foi melhor assim. Se bem que eu adoraria ganhar um conto de presente de casamento, ainda mais um tão macabro quanto esse. Bem estilo Gaiman de escrever, linguagem simples, fácil e intrigante. Ótimo final. Outra coisa interessante sobre esse conto é que ele fica "escondido" na introdução, ou seja, quem costuma pular essas partes perde uma excelente narrativa.

Cavalaria: nas primeiras páginas do livro, Neil Gaiman fala um pouquinho sobre cada conto, por que o escreveu, qual foi sua fonte de inspiração, etc. No caso desse conto, o que eu mais gostei foi o quanto o autor satirizou uma dissertação acadêmica feita a partir de seu conto. Acho legal isso, o quanto tem pessoas que acham que sabem o que o autor quis dizer com o que escreveu, as idéias ocultas e tudo o mais e no fim, estão completamente equivocados. Mas voltando ao conto em si, narrativa divertida sobre um suposto paradeiro do Santo Graal. Uma história divertida e muito, fazendo uso do adjetivo dado pelo próprio autor, simpática.

Nicholas Era...: infelizmente já tinham se passado 02 dias desde o Natal quando eu li esse conto. Uma pena. Teria sido muito melhor do que a imagem bonitinha de roupas do Papai-Noel que eu coloquei no meu Facebook. Sim, é um conto natalino. Não, não é sobre o espírito natalino ou a época de perdoar e fazer boas ações, muito pelo contrário...

O Preço: esse conto me fez lembrar daquele seriado brega O Toque de um Anjo(Touch By an Angel), que passava sabe deus em que canal. Mas é como se fosse a versão Gaiman desse seriado, envolvendo mais drama e muito mais sangue e violência. Adorei a mescla de anjos com gatos, fez sentido apesar de parecer que nunca faria.

A Ponte do Troll: esse conto me rendeu um novo vício musical – The Stranglers. A banda punk setentista é citada no início da história, e não agüentei de curiosidade, fui correndo pro youtube dar uma ouvida. Resultado: to viciada numa música deles chamada Golden Brown (se você não conhece, por favor ouça-a, vale a pena). Esse conto tem um ar de melancolia, e achei que faltou alguma coisa, mas não sei o que. É como aquela comida, que você experimenta repetidas vezes, sabe que falta algo, mas não consegue de jeito nenhum descobrir o que, e não quer arriscar um palpite, porque sabe que isso tem grandes chances de arruinar o prato.

O Palhaço: eu tenho pavor de palhaço. Acho que só o tema já consegue deixar qualquer história aterrorizante. Essa é sobre uma daquelas caixinhas Jack in the Box, sabe-se lá o nome desse troço em português. Mas enfim, segundo Gaiman a inspiração veio de uma escultura da artista plástica Lisa Snellings, outra coisa que vale a pena procurar, caso ainda não seja de seu conhecimento. Não tem mais nada pra falar além de que é um conto de terror, mesmo.

O Lago dos Peixes Dourados e Outras Histórias: não gostei muito desse conto. Fiquei meio entediada e decepcionada com o drama que Gaiman fez parecer ser quando uma produtora de cinema resolve transformar um título literário em filme. Não que seja exatamente assim, afinal histórias acabam exagerando a realidade, mas tenho certeza que não é muito diferente, não.

A Estrada Branca: o que eu mais gosto nas histórias do Gaiman é o quanto ele é influenciado por outros grandes escritores e, melhor de tudo, o fato dele efetivamente revelar suas fontes. Esse conto mais do que macabro me lembrou muito aquele filme A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, não propriamente pela história, mas algo no conto me fez imaginá-lo com a mesma fotografia do referido filme. Estou bastante desejosa de ler A História do Sr. Fox, uma das inspirações para esse conto bizarro e demente (isso são elogios, só pra constar).

A Rainha das Facas: por causa da temática (show de mágica e ilusões) esse conto me lembrou muito aquele outro, que tem no livro Coisas Frágeis, Os Fatos no Caso da Partida da Senhorita Finch. Não gostei muito desse conto, acho que o final me chocou muito, fiquei meio triste. Ou vai ver que foi porque eu li num momento não tão bom: dentro de um ônibus de viagem, completamente ansiosa por chegar ao meu destino. Se, eventualmente, lê-lo de novo saberei dizer. Mas agora não é o momento.

Mudanças: se existe um conto que define a palavra bizarro, é esse. Não sei bem que tipo de adjetivo usar, chocante parece muito pouco. Pansexualismo é uma das palavras que pode ajudar a entender o conto. Ficção científica da espécie mais sinistra também. É um bom conto, mas deixa qualquer pessoa atormentada.

A Filha das Corujas: esse é relativamente curto e agonizante. Adorei o final.

Shoggoth’s Old Peculiar: esse conto me fez perceber que, enquanto eu não criar vergonha na cara e não for atrás de alguma obra de H. P. Lovecraft eu vou perder MUITA coisa contida nos contos de Neil Gaiman. Lovecraft é simplesmente uma das maiores inspirações de Gaiman, e parece ser bastante interessante, talvez fantasioso demais e um pouco pedante, mas quem não gosta de uma bizarice pomposa, não é mesmo? O fato de criticar aqueles guias de viagem é genial. É um conto divertido, mas aposto que seria ainda mais se eu entendesse da obra de H. P. Lovecraft, nem que fosse só um pouquinho.

Vírus: o conto em si é meio fraquinho, na minha opinião, mas o porque dele é muito bom – jogos de computador se infiltram em nossas cabeças de uma forma viral! Não sei se acontece com todo mundo, mas sempre que eu fico um certo tempo jogando qualquer coisa eletrônica, em especial antes de dormir, eu tenho sonhos com os jogos. Talvez eu deva parar com esses jogos, sonhos com blocos coloridos ou tabuleiros de sudoku não é muito agradável.

Procurando a Garota: um conto muito bem escrito sobre um cara que fica enlouquecido por uma mulher que ele vê numa revista masculina. A saga toda é bem intrigante e triste, em certo ponto. Adorei o fato de Gaiman explicar que o conto não tem nada a ver com mulheres, mas som com fotografias de mulheres.

Apenas o Fim do Mundo Novamente: se existisse (ou existir) um ranking de histórias bizarras, totalmente fantasiosas, piradas e que mesclam tudo que tem de esquisito no universo, essa certamente estaria entre as 10 primeiras. Mas não adianta, eu nunca resisto à esse tipo de história, ainda mais quando colocam lobisomem no meio (crepúsculo não pode ser considerado obra literária no meu mundo, pelo menos não com alguma validade, antes que alguém mencione). Mas, de novo lá está ele – H. P. Lovecraft, aquele maldito. Certamente depois que eu criar vergonha na cara e ler ao menos uma obra desse sujeito eu vou ter que ler esse livro de novo. Aposto que muita coisa vai mudar.

Bay Wolf: sen-as-ci-o-nal! É digamos uma espécie de releitura do poema épico “Beowulf”, com pitadas do seriado Bay Watch. Infelizmente não existe um correspondente direto da Pamela Anderson no conto, o que, na minha opinião, seria divertidíssimo. Mas enfim, o trocadilho brilhante do título é genial, já que de novo rola um lobisomem na história (o mesmo personagem do conto anterior). Eu adorei.

Arremate por Atacado: essa história é brilhante. Muito inteligente e perspicaz, pois ao mesmo tempo que engraçada, acaba sendo bem dramática. Em resumo trata de uma “pequena” gafe que é possível fazer em nome de uma boa promoção. Todo mundo adora promoção, vai.

Uma Vida Gestada nos Primeiros Trabalhos de Moorcock: aqui tem outro autor que eu desconheço COMPLETAMENTE e cuja leitura da obra é essencial para entender melhor o conto – Michael Moorcock. Esse conto é ótimo pois, segundo Gaiman, o personagem principal é uma representação dele mesmo quando criança. Isso é ótimo no ponto em que muita coisa sobre a personalidade do escritor é revelada, não exatamente a personalidade, mas coisas que ele gosta, acredita. Tá, vou falar a verdade, fiquei feliz porque descobri que ele realmente teve uma desilusão com As Crônicas de Nárnia como eu havia suposto. Adoro estar certa, e esse conto me fez entender o que diabos tinha acontecido. De resto é um bom conto, um pouco pesado, mas um bom conto. O final me fez sorrir.

Cores Frias: é pra ser sincera? Achei horrível. Já falei ali em cima que não sou fã de poemas. Talvez por ignorância, porque eu realmente não consigo entender esses troços. Talvez seja uma questão de gosto, afinal o que seria do azul se todo mundo gostasse do amarelo, certo?

O Varredor de Sonhos: como conheci Gaiman graças à aclamada história em quadrinhos Sandman, posso afirmar que “sonho” é uma temática que me atrai MUITO, e que Gaiman sabe tratar como ninguém. É uma história bonita e triste. Gosto de coisas assim.

Partes Estrangeiras: só agora, escrevendo esse post, é que eu entendi o título. Devo alertar que se trata de uma história pesada, com um final digno de um episódio de “Além da Imaginação” (The Twilight Zone).

Sestina do Vampiro: serviu pra eu aprender o que é uma sestina. Poema, poesia e qualquer derivação não passa no meu crivo. Meu cérebro automaticamente separa pra pasta “chato” e eu tenho uma dificuldade tremenda de me concentrar na leitura, fato.

Camundongo: segundo o autor, esse conto foi feito para uma antologia de histórias sobre superstição. Desconheço a superstição a que este conto faz alusão, ou sou realmente muito tapada, ou li sem um pingo de atenção (tudo é possível). A parte mais bizarra é uma transmissão de rádio que o personagem ouve durante a trama e que, segundo Gaiman, é verídica.

A Mudança do Mar: não gostei. Não entendi. Não prestei atenção. Sei lá. O tipo da coisa que não me prendeu, que eu li umas 3x a mesma frase e ainda assim me perdia, e voltava e pulava e no fim de tudo eu ainda continuei não gostando. Mas conheço alguém que provavelmente gostaria...

Quando Fomos Assistir ao Fim do Mundo. Por Dawnie Morningside, Idade: 11 anos e 3 meses: esse conto é ótimo. Como se fosse escrito por uma criança de onze anos. Sendo bem sincera mesmo, não parece que foi escrito por uma criança de onze anos, fail se a intenção era mesmo parecer isso. Mas é divertidíssimo. Totalmente fantasioso e engraçado num estilo de humor de seriado. Taí, daria um bom seriado.

Gostos: o tema parece sexo no começo, mas acaba sendo uma ficção científica das mais brilhantes que eu já li. Amei esse conto, um dos preferidos CERTEZA. A questão da leitura de mentes é um assunto me fascina em excesso, aí já viu né! Me ganhou.

Bolinhos de Bebê: um jeito muito bom de falar sobre as atrocidades que os humanos fazem com os animais.

Mistério de Assassinato: esse conto me deixou completamente arrepiada. Fala sobre anjos, e sobre a injustiça divina. Vale MUITO a pena ser lido.

Neve, Vidro e Maçãs: e como seria a versão da madrasta da Branca de Neve? Quem disse que ela não tinha seus próprios motivos pra fazer tudo o que fez? Como podemos saber se a Branca de Neve era mesmo a boazinha da história se só ouvimos o lado do vencedor, hein? Esse conto é uma bela releitura da minha história infantil preferida, contou muitos pontos por causa disso.

Pra resumir bem resumido, Gaiman abriu de forma estupenda com “O Presente de Casamento” e guardou a nata pro final, com esses últimos 04 contos. Gosto cada vez mais desse brilhante escritor inglês e pretendo ler as obras que lhe serviram como referência o quanto antes!

quinta-feira, 24 de março de 2011

V de Vingança - Alan Moore e David Lloyd



Tudo bem que não é um livro, e sim uma "série de romances gráficos" - história em quadrinhos, mas tendo qualidade literária de que importa o gênero, certo?
Eu sou uma grande entusiasta das HQs, tanto que foi através de uma delas (Sandman) que eu tive o prazer de me deparar com meu amado Neil Gaiman.
Claro que eu vi o filme de V de Vingança, assim como a grande maioria da população mundial, o que foi uma pena. Antes tivesse lido a HQ. Filmes podem ser ótimos e tudo o mais, mas sempre, eu disse SEMPRE, deturpam as histórias originais.
Voltando à HQ, nem preciso dizer que me empolguei horrores com a narrativa e nos momentos que resolvi sentar e ler era difícil largar a bendita. Adoro histórias violentas, sou verdadeitamente apaixonada por autores que citam Shakespeare e que passam ideologias em suas histórias.
V de Vingança é resumidamente sobre Anarquia. Aqui seria interessante abrir um parênteses e explicar o que me atrai na Anarquia: a ideia de ser livre de hierarquia. Sim, eu tenho problemas sérios com autoridades forçadas e impostas. A simples concepção de estabelecer uma ordem apenas porque todos assim a desejam é tão maravilhosa aos ouvidos como a própria palavra 'liberdade'.
Sobre a obra em si, achei que durante o primeiro e o segundo tomo existe um ritmo que foi perdido no terceiro e último tomo. Não sei se é proposital ou o que. Adorei o final, bastante poético.
Como boa ratinha de biblioteca que sou, apenas ler a história não me bastou, e gostei muito da pequena explicação dada por Moore de como surgiu a ideia para a criação da trama e do personagem principal. Adorei certas colocações feitas por ele, como a dificuldade enfrentada por escritores/roteiristas/artistas em momentos de lapsos de criatividade.
De qualquer forma, acredito que HQs devem ser boas pra pessoas que tem aquela certa preguiça de ler. Não tem muito texto, juro que rapidinho você chega ao final, o que é uma pena, mas atrai muita gente.
Pra finalizar, fato que irei me apoderar de algumas citações feitas pelo personagem principal para a confecção de lambes. Eu e minha vontade de dividir com o mundo as coisas que me intrigam e fascinam...

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Caso de Charles Dexter Ward - H. P. Lovecraft



É incrível como as coisas simplesmente acontecem em nossas vidas. Ou esse tal de "acaso" é realmente muito corriqueiro ou aquele maldito "destino" adora fazer uma gracinha. Um amigo tinha comprado de presente de aniversário esse livro pra mim, antes de eu declarar de maneira desesperada que PRECISAVA começar a ler Lovecraft por causa do Neil Gaiman.
Enfim, histórias fantásticas da minha vida a parte, o que importa é que eu entendi o porque desse autor americano ser tão apreciado por meu escritor preferido, ele é realmente inspirador.
Howard Phillips Lovecraft foi um cara extremamente brilhante e perturbado, que teve uma vida bem trágica durante o final do século XIX e o começo do século XX. O que lembra em demasia um outro escritor de quem gosto muito: Edgar Allan Poe.
Acho que esses caras melancólicos, que tiveram vida sofrida, depressão, montes de mortes de entes queridos, têm uma tremenda tendência (e facilidade) para se dedicarem ao gênero do terror.
A obra aqui analisada, em especial, é bastante perturbadora. Em resumo é a história de um jovem, fascinado pelas pesquisas históricas, que acaba descobrindo ser descendente de um alquimista. Acontece que o jovem tinha real força de vontade e empenho e decide estudar todos os documentos antigos que encontra e acaba se enfiando numa furada. A tal furada vai sendo desvendada pouco a pouco por um médico psiquiatra, amigo da família e é ele quem vai se tornando o personagem principal da narrativa.
Acredito que adjetivos como macabro, doentio, terrível e perturbador são excelentes para definir a obra.
Achei magnífico e estou tremendamente ansiosa para ler outras obras desse fascinante escritor.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sonho de Uma Tarde de Verão

Bom, dessa vez não vou escrever resenha sobre a obra de ninguém. É apenas uma tentativa de escrever algo meu. Depois de uma singela frase postada no meu Facebook que rendeu muitos comentários resolvi escrever esse conto. Espero que gostem.


Sonho de Uma Tarde de Verão

Eu estava ansiosa para comprar essas passagens, com um verdadeiro frio na barriga só de pensar que seria minha primeira viagem totalmente sozinha. Decidi que segunda-feira à tarde parecia um bom dia para ir até a rodoviária garantir as passagens para a viagem no final de semana.

Não sei exatamente porque, mas fiz questão de me arrumar antes de sair, usando inclusive meu estimado batom vermelho. Acho que queria estar bonita para fazer isso, parecia algo importante. Quando cheguei à porta tive que subir as escadas novamente, pois tinha me esquecido de passar perfume.

Durante todo o trajeto de ônibus até a rodoviária fiquei imaginando como seria a viagem, se eu acabaria me perdendo ou, quem sabe, me encontrando.

A fila das passagens estava enorme, começo de ano, férias de verão, é assim mesmo... Foi quando, depois de verificar as horas pela terceira vez, olhei para o lado e o vi. Não sei dizer o que exatamente me chamou a atenção nele, não era lindo e nem charmoso, apenas diferente.

Nossos olhares se cruzaram e foi assim que o tempo parou. Não sei como e muito menos por quanto tempo, mas parou. Não tiramos os olhos um do outro e senti meu coração bater acelerado. Ele sorriu. Eu sorri de volta. Continuamos apenas nos olhando e sorrindo.

Só voltei à realidade com a senhora que estava atrás de mim me cutucando e avisando que eu era a próxima a ser atendida. Foi como se tivesse acordado de um sonho.

Caminhei até o guichê e quando olhei na direção em que ele antes estava simplesmente não havia ninguém, dei uma procurada rápida com os olhos e não vi nem ao menos ele por perto, indo embora. Sumiu como se nunca tivesse estado ali.

Na volta para casa, a chuva batia com força na janela do ônibus, um verdadeiro temporal de verão. Não deixei de pensar nele um segundo sequer. Mesmo tendo um guarda-chuva fiquei ensopada só de andar do ponto até em casa.

Em frente ao meu prédio tem uma sorveteria que eu considero uma espécie de refúgio. Sempre que tenho algo em mente atravesso a rua, peço um sorvete de cereja e decido que tenho o tempo de terminá-lo para pensar no assunto.

Foi por isso que, ao invés de entrar em casa, mesmo com os pés encharcados, atravessei a rua. Depois da última colherada de sorvete de cereja concluí que preferia imaginar tudo como um sonho. Um daqueles que a gente tem às vezes, totalmente acordados, em meio a multidões, e que tem a capacidade mágica de fazer o tempo parar.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Orgulho e Preconceito e Zumbis - Jane Austen & Seth Grahame-Smith


Foi a capa que me chamou a atenção, e a necessidade de fazer hora que me fez entrar na livraria e ler as 04 primeiras páginas desse livro. Depois dessas míseras páginas estava decidido: eu TINHA que comprar o bendito. E a melhor parte é que as outras 300 e tantas não me decepcionaram.
A história é simplesmente a mesma escrita por Jane Austen, mantendo inclusive diversas das falas exatamente como no original. A diferença é a inclusão de zumbis no enredo. Andei pesquisando por aí e eles chamam isso de "mashup", termo que achei ser restrito à música, mas eu prefiro chamar de releitura (melhor que paródia, soa muito brega).
É um humor bastante sutil e, devo dizer, extremamente nerd. Em geral a história continua bem fiel à obra original, mas existem algumas mudanças para que a adaptação funcione.
Eu havia dito que me identifiquei com a Elizabeth (personagem principal) de Austen, mas agora posso afirmar que daria tudo pra ser com a "Lizzy" de Grahame-Smith. Em sua releitura, nossa heroína não é "apenas" uma jovem sagaz e sarcástica, mas também uma perita nas artes mortais, grande matadora de zumbis que, junto com suas irmãs, foi incumbida pela rainha da Inglaterra de projeteger seu condado.
Outra coisa que eu achei MUITO sensacional: lembra aqueles livros clássicos, como alguma obra de Machado de Assis, que a gente lia no colégio, pra fazer prova do livro, que tinham umas perguntas sobre a história nas últimas páginas? Bem didático mesmo. Então, tem dessas perguntas ao final e são todas muito engraçadas. Mais uma amostra da inteligência do humor dessa obra.
Além do livro, que tem ilustrações muito boas, acabei encontrando uma versão de HQ, que ficou genial.
Resolvi ir atrás pra ver o que mais tinha desse autor e descobri que ele tem outro livro com o título "Abraham Lincoln: Vampire Hunter" que não tem versão em português. São obras novas, o "Orgulho e Preconceito e Zumbis" é de 2009 e a edição brasileira de 2010. Dizem por aí que esses dois livros vão virar filme, sendo que um deles talvez seja inclusive dirigido por Tim Burton.
Com ou sem filme (que se tiver mesmo faço questão de ver) só tenho elogios a fazer, e dizer que vale muito a pena essa leitura!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Livro da Bruxa - Roberto Lopes



Esses dias, enquanto minha mãe estava viajando, resolvi fuçar o quarto dela depois do almoço a procura de chocolate. Infelizmente não achei nem um mísero pedacinho, mas encontrei esse livro e, como ela já havia feito uma puta propaganda, resolvi ler o bendito.
Em resumo trata-se da história de um médico que conhece uma senhora que se passa por paciente para se aproximar dele e no fim se revela uma bruxa, ensinando várias coisas sobre a vida ao cara. O livro não é ficção e nem magia estilo Harry Potter, é mais pra auto-ajuda mesmo.
Eu sei que eu disse que tenho pavor desse tipo de livro, mas querendo ou não sempre dá pra aproveitar alguma coisa. E, na verdade, desse livro em questão dá pra aproveitar bastante coisa.
As primeiras 60 páginas foram uma maravilha, tendo me chamado atenção um artigo escrito pelo médico e reproduzido no livro, comparando a vida a uma escola de pintura, bastante interessante e lógico. O problema chegou lá pela página 64, quando os assuntos "mulher" e "casamento" vêm a tona. Achei o texto muito sexista, e não curti. Algumas ideias são comuns com as minhas, mas em geral repudiei toda a concepção de relacionamento exposta pela tal bruxa.
Fora isso e umas outras coisinhas ao longo do livro (como dizer que todo mundo que tem depressão se sente assim porque não sabe aproveitar as coisas simples da vida) eu gostei muito da ideia como um todo, acho que determinados ensinamentos como "aproveitar a vida como turistas" são muito válidos. Acho que a frase do livro inteiro que mais me marcou foi uma citação de Paracelsus, feita pela bruxa: "abandonei o estudo pelos livros dos homens e passei a ler o livro do mundo".
Mais para o final, o médico diz que vai escrever um livro sobre tudo que aprendeu com a bruxa, mas logo muda de ideia dizendo que seria muito difícil e que ele não consegue escrever, e assim a velha senhora acaba passando uma verdadeira receita de como escrever um livro, que eu particularmente considerei genial, em espcial porque friza que livros grossos só servem pra encher os leitores de tédio (queria muito que minha orientadora tivesse lido esse livro).
O mais interessante é que eu só fui me tocar que o autor é brasileiro quando estava lá pelas últimas 20 páginas (o livro só tem 157 no total), o que me fez parar para refletir que fazia muito tempo que não lia um livro em seu idioma original, nos últimos tempos só tenho lido traduçõe e mais traduçoes e não se pode negar que muito é perdido nessas traduções, alterando parte ou até mesmo todo o sentido do que estava escrito.
Enfim, é um livro interessante, curtinho e que não é necessário se tratar de uma história real para fazer um efeito real no leitor. Concordando ou não com as teses ali expostas tenho certeza que de alguma forma mexe com quem está lendo e faz parar para refletir, mesmo que seja para descartar tudo que foi escrito.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Comer, Rezar, Amar - Elizabeth Gilbert



Como havia me mudado há pouco tempo, minha casa ainda estava bastante bagunçada e, assim sendo, os livros acabaram sendo meramente empilhados um sobre o outro (de forma a não ser possível ler os títulos de nenhum sem antes removê-los) dentro de um armário no corredor.
Eu tinha acabado de escrever o post passado e precisava urgentemente de um novo material de leitura. Apelei para a pilha de livros da minha mãe, com o objetivo de escolher um título da forma mais aleatória possível: sem olhar muito, puxei um exemplar que se encontrava mais para o final do monte.
Aqui devo confessar que ao ler o título que escolhera tive dois rápidos pensamentos:
1º: -Nossa que coincidência! - o que se deu ao fato de dois dias antes eu ter visto uma referência a este livro no Twitter e no dia seguinte dei de cara com o CD da trilha sonora do filme de mesmo título, ou seja, foi uma sequência de 3 dias, com 3 diferentes acontecimentos envolvendo esse bendito livro.
2º: - Ah... Será que não tem outra opção de leitura melhor, não? - Sim! Eu tenho MUITO preconceito contra esse tipo de livro (ou pelo menos contra o tipo que eu acreditava ser esse livro). É o típico livro para mulheres, que mistura auto-ajuda com romance.
Não sei dizer se foi pela coincidência com os eventos anteriores, ou se em respeito à teoria da aleatoriedade, que se baseia em escolher algo (livro, filme, resposta de prova) de forma completamente aleatória, como se entregando ao "universo" o poder de escolha. Eu costumo não contrariar a decisão do "Universo", afinal ele deve saber o que faz (NOT).
De qualquer forma, iniciei a leitura.
O livro é dividido em 3 partes, cada uma remetendo a um dos verbos do título. Em resumo a história é uma escritora, que se divorcia, passa por maus bocados (aquele papo de depressão e tal) e resolve passar 01 ano viajando por 03 países, ficando 04 meses em cada país. Aqui gostaria de fazer um adendo de que eu também apreciaria muito poder resolver meus problemas emocionais viajando por 01 ano, tenho certeza que no primeiro dia de viagem eu já teria superado todo e qualquer problema.
Mas, continuando, a primeira parte se passa na Itália, e sim, diz respeito ao "comer"! Gulosa como só eu sei ser, não consegui ler 01 página sequer sem ficar com fome (mesmo lendo logo depois do almoço diversas vezes). Nessa parte ela cita muitos lugares magníficos da Itália que valem a pena serem visitados e, mais do que isso, o que comer em cada lugar! No momento estou morrendo de inveja do meu pai, que está indo pra Itália hoje, daqui a poucas horas. Mas acho que tô fugindo do assunto já.
Na segunda parte, verbo "rezar", a mulher se enfia num ashram indiano, onde ela supostamente tem que passar 4 meses meditando e cantando mantras. Adorei o fato dessa parte ser extremamente difícil para ela, que não aguentava ficar 1 minuto parada no lugar. Ia ser patético se depois de passar 4 meses se empanturrando na barulhenta Itália ela conseguisse num passe de mágicas ficar ultra mega tranquila e zen, só comendo comida vegetariana e meditando bem quietinha. Ao longo do livro todo ela vai se dando conta e sendo ensinada sobre espiritualidade e divide seus pensamentos e ensinamentos com o leitor, o que considerei muito válido.
A terceira e última parte se passa em Bali e é sem dúvida a mais divertida do livro todo, lógico que tem final feliz e príncipe encantado, por que o objetivo é agradar mulheres (ninguém vai tirar essa ideia da minha cabeça). Mas o melhor é que não tem uma conclusão bobinha, de "viveram felizes para sempre" e fim de papo. Ela deixa bem claro que apesar do desfecho romantico tudo que aconteceu foi consequência dos atos dela, e que tudo foi um duro processo de evolução e descoberta de Deus e de si mesma. Achei muito bom.
Fiz a cagada de ir dar uma conferida no filme que foi "baseado" no livro. Só tenho a dizer que baseado mesmo foi o que fumaram pra fazer esse filme, porque ficou horrível e não só em comparação com o livro. Pra quem leu o livro é uma completa duma deturpação da história, isso é fato, ainda mais com aquela magricela bocuda da Julia Roberts no papel da escritora. Mas eu fiquei imaginando como deve ter soado o filme pra quem não leu o livro: uma história maluquete, duma americana meio doidinha que saiu por aí e viveu em 3 países em uma semana. Juro! A transição de uma parte pra outra é feita em verdadeiros "pulos" de cena, de forma que não dá pra entender quase nada, muito menos toda a transformação que Liz Gilbert vive ao longo desse 01 ano de viagens.
Fiquei super desapontada, mas em geral Hollywood só está decepcionando mesmo, então não dá nada!
Mas o livro eu recomendo. Leitura dinâmica, divertida e inteligente. Tem material de auto-ajuda no meio, isso é fato, mas as vezes pode ser bom, nunca se sabe!