quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Feliz Ano Novo - Rubem Fonseca


Acho que 2011 foi o "ano dos livros de contos" na minha vida, não me lembro de antes ter lido tão seguidamente tantos exemplares dessa espécie! Esse, em especial, estava aguardando desde o comecinho do ano (lá por abril) para ser lido. Confesso que eu tinha um certo preconceito contra o mesmo, parecido com o meu sentimento em relação a Nelson Rodrigues, provavelmente por conta da famosa "pornografia" como tema. Sim, eu tinha um grande e burro preconceito contra essa temática e "Feliz Ano Novo" é sem sombra de dúvidas um excelente material para fazer qualquer um superar esse preconceito (ou desistir de vez de tentar apreciar).
Como de costume, lá vou eu conto a conto:

01. Feliz ano novo: conta a história de 03 pelegos que resolvem assaltar alguma casa na noite de ano novo. É bem escrito, pesado, sujo e sobre a escória da sociedade. Achei legalzinho.

02. Corações solitários: o livro me foi emprestado justamente por esse conto, tanto que eu cheguei a lê-lo e depois encostei o livro de novo por mais alguns meses. A história é contada por um jornalista que sai das notícias policiais para fazer parte de uma encadernação destinada às mulheres da classe C. O final é bastante surpreendente. Mas de novo: achei legalzinho.

03. Abril, no Rio, em 1970: um fulano quer ser visto por um olheiro de futebol para poder ir para um bom time. Achei chatinho, mas esse conto diz muito sobre a pessoa que me emprestou o bendito livro. P.S.: obrigada babe!

04. Botando pra quebrar: foi aí que eu comecei a gostar do livro. História de um zé ninguém que não quer mais viver as custas da mulher e arranja um emprego de leão de chácara, ironicamente no mesmo dia que ela pede a ele que a deixe encontrar um homem bom e decente para ela. A parte do drama é boa e realmente triste, mas o legal é o final do conto.

05. Passeio noturno (Parte I): um pai de família aparentemente normal tem uma espécie de "hobby" bastante único, que o ajuda a liberar as frustrações.

06. Passeio noturno (Parte II): é nesse conto que o tal hobby consegue ficar ainda mais assustador. Genial esse conto, amei amei amei amei (aqui você já consegue perceber o quanto eu estava empolgada com o livro).

07. Dia dos namorados: o famoso personagem Mandrake aparece nesse conto (excelente, diga-se de passagem). Uma história maluca sobre um ricaço que resolve levar uma garota de programa pra um motel e tudo que podia efetivamente dá errado. Aí o Mandrake surge pra resolver o rolo todo.

08. O outro: esse eu achei muito triste. Um cara rico que trabalhava demais e todo dia era abordado por um coitado na rua, até ele se irritar com o coitado...

09. Agruras de um jovem escritor: que conto mais maravilhoso! Um escritor que mora com uma suposta fã e a trata como lixo, ao final percebe que não era ninguém. Não quero detalhar mais, acabaria com toda a graça.

10. O pedido: outro conto bastante triste. E aqui eu notei um elemento que é recorrente na escrita de Rubem Fonseca - personagens de origem lusitana. Um velhinho precisa pedir ajuda para seu patrício, mas os dois estão brigados há anos (e ele nem mesmo lembra o motivo). Incrível como certas bobagens, em especial o orgulho, acabam com a vida das pessoas.

11. O campeonato: é nesse conto que a tal pornografia é abordada de um jeito tão inusitado que você consegue perceber que não há nada demais nela. É um conto genial, sobre um campeonato de conjunção carnal. Certos elementos te fazem notar que o conto não se passa no presente e sim num futuro estranho, que é o que o autor acredita que vai acontecer com a humanidade. Muito bom mesmo.

12. Nau Catrineta: meu conto preferido. Um jovem está completando 21 anos e é seu destino completar uma missão, passada por gerações em sua família. Outro elemento que eu já havia percebido: o autor é extremamente culto, em especial quando o assunto é literatura, e deixa isso bem claro ao longo de todo o livro! A atmosfera de mistério e profecia são muito bem colocadas e se apresentam de forma ao mesmo tempo sútil e evidente (não me pergunte como, só leia).

13. Entrevista: o conto inteiro é uma conversa entre um homem e uma mulher, mas ninguém te diz isso. Simplesmente são duas iniciais diferentes "M" e "H", e você só pode ter certeza de que "M" é mulher pelo contexto, mas não que necessariamente esse "M" seja pela primeira inicial de "mulher". E a complexidade dele é tamanha que me deixou meio tonta ao final, não sei se realmente é pra entender o que eu entendi ou se eu viajei bonito, mas o "meu final" é bem sinistro.

14. 74 Degraus: nunca tinha visto essa estrutura - apenas pensamentos das personagens. Fica bem confuso em alguns momentos, onde é difícil distinguir quem está pensando o que, mas é realmente genial. Um jeito único de narrar uma história, como se usasse da visão de cada personagem sobre um mesmo fato, vivido exatamente no mesmo momento. A história em si não é tão boa, se bem que adorei o triunfo das personagens femininas, mas enfim, o que realmente marca é a estrutura.

15. Intestino Grosso: o melhor fechamento de livro de contos que eu já vi em toda a minha vida (e que certamente vou ver, porque, pra ganhar desse tem que ser muito bom mesmo). Esse conto é como se alguém fosse entrevistar um certo escritor que por acaso é exatamente IGUAL ao Rubem Fonseca. Explica muita coisa, inclusive o livro todo passa a fazer muito mais sentido e deixa de ser uma série de contos desconexos para se mostrar um grande projeto, único, que segue uma mesma linha de raciocínio. Adorei muitas das ideias do autor, mas nada se compara a explicação a respeito da temática "pornografia". Excelente final.


Um comentário:

  1. Genial o post!
    Me fez ter vontade de ler o livro novamente!
    Na verdade me fez ter vontade de ler o livro sazonalmente!
    Re-lembrando dos contos pelo post, descobri que definitivamente não tenho um favorito nessa obra!

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