segunda-feira, 25 de julho de 2011

Anjo Negro - Nelson Rodrigues


Confesso que nunca havia lido uma obra sequer do referido autor, mas já tinha os maiores preconceitos do mundo contra seus polêmicos temas e sua forma de abordá-los. Estava agindo como uma criança que diz odiar um vegetal que nunca antes experimentou, mas veja bem, eu tenho uma boa desculpa! Acredito que a minha educação cristã ainda não saiu totalmente da minha cabeça e me torna por demais bitolada para muitos assuntos ainda, mas é algo que estou solucionando aos poucos, juntamente como lento diagnóstico da própria patologia.

Mas, voltando à obra, deixei meu preconceito de lado em razão de um objetivo maior – prestar novamente o vestibular, depois de todos esses anos (meu 1º foi em 2005). E posso afirmar que valeu a pena!

Anjo Negro é uma obra teatral, escrita por Nelson Rodrigues em 1946, sendo tão chocante e polêmica que só pode estrear em 1948, em razão da censura da época. O “roteiro” de peça é bastante breve, sendo lido (ou devorado) rapidamente, ainda mais por ter como trama uma verdadeira insanidade, misturando os temas racismo, estupro e incesto.

*ATENÇÃO, A PARTIR DESTE PONTO PODE HAVER SPOILERS DA HISTÓRIA

A peça gira em torno de um casal, Ismael (negro) e Virgínia (branca), cujos filhos sempre acabam mortos ainda muito pequenos. Ao longo da leitura você vai descobrindo que Virgínia só se casou com Ismael por obra da tia com quem morava, pois supostamente ela havia seduzido o noivo de uma de suas primas, levando esta última ao suicídio. Sendo assim, a tia se vingou da tão bela Virgínia, mandando que Ismael estuprasse Virginia.

Ismael se apresenta como um sujeito que tem vergonha, ou até mesmo verdadeiro pavor, de sua ascendência, julgando que ser negro é ser inferior, e que os brancos é que são educados. Todo esse drama da personagem foi inserido na história para retratar o pensamento preconceituoso daquela época. Virgínia sente repulsa e atração pelo marido na mesma medida, e ambos em razão da cor da pele de Ismael.

Logo no início da narrativa as personagens são surpreendidas pelo aparecimento de Elias, o irmão branco e cego de Ismael, com quem Virginia se envolve e acaba grávida. Ismael descobre o ocorrido, mata o irmão e ao mesmo tempo Virginia assume que era ela quem matava os próprios filhos, por nascerem todos negros como o pai.

A reviravolta se dá quando nasce o filho de Virginia com Elias, uma menina branca que Ismael trata de logo cegar pois vê nessa menina a oportunidade de ser realmente amado fazendo se passar por branco (aproveitando-se da cegueira da menina). Nesse ponto se percebe o quanto Ismael acredita que ser branco é ser superior. A coisa toda dá certo, uma vez que Ana Maria é loucamente apaixonada pelo negro que se diz seu verdadeiro pai, e odeia Virginia sua mãe.

O final não precisa ser estragado, só vale dizer que a alusão feita à Branca de Neve, é a melhor parte de todas. A história é meio macabra, cheia de mortes, vinganças, inveja e ciúmes. A parte do incesto é nefasta demais para ser descrita, mas acho que as obras que te fazem sentir algo, mesmo que repulsa, são obras bem escritas. Em resumo: leitura extremamente recomendada, até porque não leva mais que 2 horas (lendo bem lentamente) para fazê-la

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